Eu entendo que existem diversas formas de lidar com contratempos e circunstâncias na vida. E aqui evoco um parêntese de que, nem sempre, esses dois contextos podem vir carregados de teor negativo. A ressignificação utilizada de forma até exacerbada nos dias de hoje ganha cores e materialismo nesse disco que, de forma bem simplória, vou tentar discorrer por aqui: O Desconhecido, da banca carioca Velhomoço.
O meu primeiro contato no início do ano com o single “Lá vem a Alvorada”, começa com aquela simpatia gratuita onde (cenário hipotético) torço meu nariz pra duração de cinco minutos, onde todos sabem da minha certa resistência, mas vai ganhando acalanto com a mensagem de estrutura simples, a quebra de ritmo que ninguém esperava (aos melhores moldes “Sobre o Mesmo Chão”) e com as firulas de voz e guitarra que nos convidam a cantar juntos a mensagem de que o sol irá raiar, juntamente a banda. Foi um belo começo de assimilação de quem era e quem seria a Velhomoço.
Os menos de 40 minutos do disco, distribuídos em dez canções, são carregadas de rock nacional no seu melhor estilo contemporâneo e revivalista do mesmo. As influências que vão de Jorge Ben (como a própria banda sugere), trazendo a coerência da utilização dos contrabaixos me fazem escutar um Q de tudo um pouco: Maglore, Móveis, Alforria, Barão e isso é muito convidativo. Nunca concordei tanto com uma autodescrição como a da própria banda quando diz: “pelo menos uma canção você se identifica, ouvinte”. (Parafraseei aqui.)
Voltando a falar do que pontuei no primeiro parágrafo: a ressignificação é um tema central do conteúdo compositivo do álbum e emana uma mensagem com algumas apologias cristãs (não entramos no parâmetro de rótulos), de auto responsabilidade e uma positividade que de certa forma pode soar demasiada piegas, mas é compensada com uma boa distribuição das faixas e inteligência na construção das melodias.
Ou seja: nada do que já não tenha sido feito, mas cumpre de forma excelente o seu papel. Afinal, um rock nacional que resgata toda a brasilidade que é possível incluir em uma obra, independente de segmentação musical, é sempre bem vinda.
Velhomoço é composta por: André Prueza (vocais), Rafael Vieira (bateria), Paulo Grua (guitarra) e Junior Gigante (contrabaixo).
Destaque para as faixas (ou simplesmente as que eu mais me identifiquei): “O Vento e o Tempo”, “Incoerência e Revolução”, “Lá vem a Alvorada”, “Procrastinação” e “Sem Suor”.