Lembro bem quando ouvi Crombie pela primeira vez. Já se passaram 10 anos desde aquele contagiante frescor nos ouvidos provocado pelo disco Por Enquanto. “Longa Jornada”, “Manga”, “Chuva de Vento”, “Guidom”… Suavidade nas notas e inteligência nos versos. Sabia que estava diante de uma preciosidade musical. Por trás dessa banda, um jovem cara cheio de talento e simplicidade. A cada música lançada na breve trajetória da banda minha certeza aumentava: Paulo Nazareth junta-se ao hall dos mestres João Alexandre, Gerson Borges, Silvestre Kuhlmann e outros grandes nomes.
Depois de alguns singles, ele lança seu primeiro passo solo. O Extraordinário em Nós chega sem grandes pretensões, mas cheio de expectativas. Pretensões porque a alma serena do Paulo parece não gostar muito dos holofotes; expectativas porque todos sabiam que um grande trabalho estava por vir. E o resultado foi exato: apesar de curto, o EP é perfeito da capa ao último segundo.
“Na Hora e no Lugar” inicia trazendo paz aos nossos corações. Bem Crombie. Os ouvidos de boa memória devem lembrar dela cantada em um vídeo com a Marcela Vale (Mahmundi) e o Felipe Vellozo, em 2014.
Não mais apenas no violão, a faixa ganhou ainda mais vida, cativando:
“E não é de chegar primeiro
Mas é de continuar
No compasso da canção
Na hora e no lugar”
Mais recente nos lançamentos temos “Vai Ver”. Com um clipe animado encantador, a canção parece o respirar fundo de alguém que encontra fôlego para continuar a caminhada. Ela traz uma renovação de esperança, um “navegar é preciso”.
“Do amanhã eu não sei
Quem poderá dizer?
Vou me deixar levar
Por você”
Com a faixa título, a alegria transborda. Acredito ser a música mais animada já feita pelo Paulo, ela é celebração. Com uma pegada bem fim de festa, para cantar num abraço coletivo, pulando e celebrando o “extraordinário em nós”.
A única participação especial do EP é ninguém menos que Zazo, do Céu na Boca. Se você não o conhece ou a sua banda, pare agora, ouça lá e volte. Faça esse grande favor para você. Depois disso, contemple a agradável “Bem Onde Você Está” e a deslumbrante “Canções do Silêncio”. Como um poema declamado, essa última fecha o disco para aplaudi-lo de pé.
Mas antes do fim tem “Volta” que, particularmente justifica toda a criatividade e simplicidade do Paulo. A partir de uma experiência trivial, ele consegue extrair uma profunda reflexão sobre a volta dEle. É para ouvir com um sorriso leve no rosto.
“Se eu não me preparo para a minha volta
Como posso esperar você voltar?
Mesmo com apenas 19min de duração, o EP “O Extraordinário em Nós” tem a qualidade de algo lapidado sem pressa e a solidez feita para durar. Gratidão a Deus pelo Paulo. Que o Espírito continue direcionando seus passos e suas palavras.