Primeiras Impressões: Hélvio Sodré – Som e Silêncio

Até hoje tento entender o porquê de um cara tão talentoso como o Hélvio Sodré ainda não tem a visibilidade que merece. Lembro-me bem de quando ouvi Polo (2012) pela primeira vez. Cada faixa era uma alegre descoberta. Sua voz e sua sonoridade me cativaram sobremaneira. Canções cheias de Bíblia, humanidade e personalidade. Isso sem falar na espetacular faixa Você Me Faz Tão Bem que marcou não só a minha vida como a da minha querida irmã e do meu cunhado. Sabendo que ela amava essa música, consegui entrar em contato com o Hélvio e pedir que ele gravasse um vídeo da canção mandando uma mensagem para eles. Exibi o vídeo durante a festa do casamento e o resultado vocês já imaginam. Dito isso, fica clara a afetuosa relação que eu tenho com o trabalho desse baiano do DF e, por isso, não poderia deixar de comentar sobre Som e Silêncio, seu novo disco.

O álbum começa com a tímida Minha Oração, uma canção voz, corda e piano ao fundo. Tudo de forma bem suave, característico do perfil do Hélvio. A letra é bastante confessional e se enche de personalidade com um refrão contagiante e envolvente.

Todo erro
Que é velado
Trago em confissão
Essa rixa
Com os meus vícios
Já não nego
Mas insisto

Seguindo temos Astronauta, uma faixa já conhecida lançada como single desse disco. O lyric vídeo é encantador, preparado com uma sofisticação bem delicada. O canto fala sobre os contrastes existentes entre a limitada mente humana e o indescritível poder do criador do universo.

Com um fusion de folk e jazz, Guardião é graciosa. Se soltando, Hélvio traz a decisão de lutar pelo amor e fidelidade no relacionamento com Deus.

Deixo pra trás velhas vontades
Eu quero ser um guardião
Do nosso amor

Voltando à serenidade, Habacuque 3 traz uma releitura do texto bíblico que revela a necessidade de reconhecer nossas limitações e confiar em Deus mesmo que a figueira não floresça. O foco da canção está em acompanhar a letra que é um bálsamo para aqueles que estão passando por dificuldades.

Mas ainda que o meu corpo lute com a dor
E os homens desse mundo não me deem valor
Eu vou me alegrar em Deus

Evo traz um clima tão bucólico com suas cordas, sanfona e percussão. Com um arranjo maravilhoso, a canção fala sobre a misericórdia divina que renova nossas forças e nos dá alegria para continuarmos a caminhar firmes na fé.

Posso até
Achar que já não sou capaz
Mas em Você encontro um Pai
Eu não caminho só

Com uma mudança radical, 70×7 traz a agitação presente nos discos anteriores. Como o nome já denuncia, o tema da canção é o perdão. Com uma pegada enérgica, Hélvio fala dos malefícios do rancor e vingança. Uma ótima pedida para os fãs que curtem a versão animada do cantor.

 

Ilustrada por Pedro Franz e finalizada pela @agenciastarto, a arte retrata de maneira minimalista o Monte Caveira, que foi o local onde o Verbo encarnado rompeu definitivamente o silêncio redentivo que havia entre a eternidade e o transitório.”Na palavra, som. Pro silêncio, o Verbo”

Para mim, o ápice do disco é, sem dúvidas, a faixa Paraíso. Ela sintetiza o máximo dos atributos do Hélvio. Sua voz suave une-se a uma melodia profundamente doce e, juntas, brilham de forma emocionante. E quando você pensa que o canto sobre a esperança do porvir está no máximo, chega o Marcos Almeida com sua embargada e singular voz. Certamente, esse dueto é uma das canções mais brilhantes produzidas até hoje no meio cristão.

Por que será que o choro vem
Se o fardo é de algodão?
Tudo vai passar

Chegando na reta final do disco vem Cadê que, desde as primeiras notas, você diz: ela é a cara de Paulo Cesar Baruk. E eis que ele está lá, intercalando os versos com o Hélvio com muito swing e diversão. Ponto forte!

E quando você pensa que o Sodré é um cara dócil de músicas fofinhas, você se depara com Simples Mortais. Os primeiros segundos já mostram que você será seduzido. Lembrando Soon, da Over The Rhine, a canção aborda a podridão humana finalizando com um discurso violento e puramente verdadeiro sobre nossa condição pecadora. Uma faixa para se aplaudir de pé!

Se recuperando dessa lapada musical, o Hélvio finaliza com Redenção, mais uma voz e violão tranquilo que traz o som do mar para acalmar os corações angustiados cantando sobre a graça divina.

E eu que achava que era o fim
Que era tarde
A esperança rasga o céu, me invade
A graça passou aqui
E fez o que era bom
A paz que me entregou
Não vou largar
E o medo que eu senti
Não pôde me afogar
A culpa seguiu seu rumo
O fundo de um mar

É isso. Depois de 5 anos de espera, esse talentoso nordestino, nos presenteia como mais uma obra-prima. Espero que, agora com a Sony Music, mais pessoas possam conhecer esse excepcional trabalho que tanto glorifica a Deus e traz refrigério para nossas vidas. Valeu, Hélvio! <3