Eu estava no Youtube quando certa vez me deparei com o vídeo de Amanhã, da Ternoesaia. Na hora falei comigo: Senhor, que coisa linda é essa?! Sai feito louco procurando mais informações e, depois de um considerado tempo, eles lançaram o Volume 1. Lembro que sequer procurei saber de outras músicas, a única coisa que importava era que Amanhã estaria lá. Comprei o disco e fiquei encantado com o encarte. Dei o play e veio o banho de água fria: que pop rock era aquele? A frustração foi inegável. Para mim, a banda não combinava em nada com aquele estilo. O folk de Amanhã e Torta era o tom perfeito para a proposta da banda. Na minha lógica, era naquilo que eles deveriam investir.
Passou o tempo e ouço a notícia que Volume 2 estava a caminho. Expectativa definia. A capa continuava dando uma boa impressão. Mas e o som? Estava em Belo Horizonte, no Som do Céu 2017, para ver a banda. Assim como da primeira vez, comprei o novo disco sem ouvir uma canção dele. E eis que durante o show eles apresentaram a maioria das novas músicas. Se fosse resumir em uma única palavra, diria: maturidade.
Com a banda completa, Bruna e Nick mostraram que o tempo é amigo daqueles que desejam crescer com paciência e dedicação. Com certa timidez no palco, eles estavam lá mostrando sua nova consistência, com arranjos mais complexos e, o melhor, com quase nada de pop rock. Ver a banda reunida me fez lembrar a talentosa trupe do Rend Collective e sua animada pegada folk. Foi uma apresentação louvável.
Dito isso, vamos ao disco:
Há uma Intro curta falada pela Bruna que destaca nosso chamado para sermos luz neste mundo, “Deus não é um segredo a ser guardado. Vamos torná-lo público…”, diz ela. Daí você já tira o conceito do disco bem representado na capa. Falando nela, os parabéns precisam ser dados ao Guilherme Stecanella, Alisson Bertelli e a Joy.me pela belíssima arte gráfica e fotográfica do disco.
Tendo a temática da luz como norte de todo o disco, Clareou já começa instigando os ouvidos nesse sentido. Com um folk super animado, a banda traz uma canção com uma pegada congregacional, bem de igreja e um curioso trecho: “Temos paz com todos, mas não vamos nos conformar”. Uma energia massa de otimismo e provocação para a ação.
Nevoeiro segura o ritmo, mesmo tendo um letra mais introspectiva: “O tempo corrói nossos corpos cansados, mas não vamos desaminar”. Há um momento da música que rola uma batida sensacional que, ao vivo, funciona muito bem. Haja coordenação! Um ponto forte do disco.
Seguindo, lembro que a vocalista contou na apresentação que praticamente todas as canções são reflexo dos aprendizados vividos em sua igreja. Isso é tão bacana e marcante que, no encarte, todas as canções são acompanhadas por referências bíblicas. Laodiceia é uma delas que faz uma brincadeira entre cenas do cotidiano e as exortações feitas à igreja da cidade que dá nome a música. E quanto a sonoridade, a energia do folk continua lá firme e forte.
Lâmpada parafraseia os salmos e dá uma relaxada depois de tanta animação. Muito agradável aos ouvidos com um pop meio pin-up e mensagem bem reconfortante.
Chegando a metade do disco temos a conhecida Incauto Azul que já havia sido lançada em versão acústica. E ela revela toda a fofura que permeia a banda, ainda mais com esse lyric video:
Assim como no primeiro volume rolaram versões para clássicos como Calmo, Sereno e Tranquilo e Tu és Soberano, neste volume foi a vez de Quando Jesus Estendeu Sua Mão receber uma repaginada pela banda. O resultado é bem simpático.
Paz Como Um Rio não me agradou porque não sou muito fã de repetição e seu início me pareceu um tanto infantil. Mas é questão de gosto. A seguir tem Ritmos da Graça que mostra o resquício do pop rock do primeiro disco e que eu acabo dispensando também.
A pérola do álbum fica para Matemática. Ao vivo ela é assustadoramente sensacional e no disco o sentimento é equivalente. Com uma pegada mais dramática e com o pezinho no ska, ela conta um pouco da experiência do casal de vocalistas diante dos desafios da vida. Muito bem produzida, ela é símbolo da maturidade do grupo nesse novo disco.
Quem diria que haveria um samba? Com o suave vocal da Bruna, a brasilidade em A Graça e os Três é ótima. Falando de humanidade e fé, a faixa é uma grata surpresa do grupo.
E para encerrar temos a predominante voz e violão Manhã de Sol. Uma canção bem suave, típica de roda de luau, e com letra bem envolvente. Um final bem melódico ao som de “Jesus, tu és minha manhã de sol no inverno: que aquece a minha alma congelada, que ilumina a minha alma desorientada.”
Com Volume 2 (que cá entre nós merecia um título mais criativo) é uma ótima pedida para quem procura um som com frescor e verdade bíblica. Termino a audição (assim como o show) com um “muito obrigado, Deus” pela vida desse bando paranaense que, mesmo com sua curta trajetória, tem abençoado não só nossas vidas como o cenário musical cristão no Brasil. Avante, ternoesaia, tratemos de brilhar!