REVIEW: Tanlan – Acalmanocaos

Lembro bem quando conheci a Tanlan. Ouvindo no finado MySpace me senti, inicialmente, mais atraído pelas letras do que pelo som. Mas apreciando Tudo o Que Eu Queria (2007) com calma, percebi que a proposta sonora se amarra direitinho com o teor lírico. Com muita energia e uma boa dose de criticidade, a trupe do Fábio me cativou com gosto. Com as influências já sabidas de Switchfoot, Muse e derivados, os caras chegaram para renovar o rock nacional que, para muitos, ainda é limitado na tríade Oficina G3, Resgate e Fruto Sagrado.

As faixas “Tudo o que queria”, “Bem-vindo ao mundo”, “Quando vejo o céu” e “Eu sei que não” tocaram muito aqui. Infelizmente pouco conhecida nessa época, a banda só teve os holofotes apontados para ela em 2012 com o lançamento do insano Um dia a Mais. Sob o selo da Sony, a banda destruiu tudo com um som ainda mais aperfeiçoado e letras porradas. Até hoje “Louco amor”, “Meu nome, meu sangue”, “Um dia a mais”, “Hermético” e “Meu Defeito” soam com a mesma energia que consolidaram o trabalho do grupo no tão temido segundo disco.

Tive o prazer de assistir duas apresentações desses caras aqui em Recife e ambas entraram para o ranking dos melhores shows que já vi. Incrível como eles conseguem potencializar as canções em uma instiga que suga até a última gota de energia da pessoa. Sensacional.

Contudo, 2012 passou, algumas tretas rolaram e ficou aquele silêncio no ar. Onde está a Tanlan? Mesmo com os singles É Natal (2013) e A Maior Aventura (2015), eu ficava com aquela sensação inquieta. Quando eles divulgaram o novo disco, essa impressão foi aguçada. Estava feliz (e ansioso) com o lançamento, mas o título ACALMANOCAOS e a capa não me animaram muito. Automaticamente tinha a impressão que seria um disco mais down devido as circunstâncias que o nomeara assim. Mas até o dia do lançamento minha opinião já mudava, afinal, é bacana ver um disco que reflete o momento de vida dos caras. Isso é massa.

Deixando mais de lado a lógica comercial e os 04 anos após seu grande sucesso, a banda lança um álbum bastante interessante. “Eles dizem” já começa mostrando que a essência da Tanlan estava lá firme e forte. Questionando as críticas feitas pelos outros em uma era em que qualquer um fala o que quiser, o quarteto reflete a influência alheia em nossa personalidade e ações.

Já conhecida, “A maior aventura” casa muito bem com o disco, mas poderia se encaixar bem em Um Dia a Mais. O trecho o amor há de ser a maior aventura revela que a mensagem cristã continua firme e criativa nas composições.

“Sobre o Ódio e a Razão” é, certamente, minha preferida. Putz! Que faixa! Peso e acidez na medida certa. Trechos como vai, transforma a história. Traz o amor que renova a paz e a esperança que se perdeu e o ódio cala a solução ecoam na minha mente e, de fato, restauram a energia. E o que falar do Kivitz? Chutando o pau da barraca como sempre, o rapper tira onda e ainda deixa a pérola nós vamo gritar #ForaTemer sim, mas quero fora o Temer que existe em mim eternizado na história.

“Do início ao fim” é aquela faixa bacana com letra legal e refrão simpático com seu “Ôôôô”. Já “Epifania” traz a primeira balada do disco e uma mensagem bastante confessional abordando as inconsistências da vida, nossas falhas e limitações. Sou impagável, incurável, indomável por mim mesmo. Sou incorreto, inquieto, incompleto sem Você. Mas Tua graça é mais. Teu amor é o que me traz pra mais perto da tua paz, sem me esquecer jamais. Que lindeza!

“O que eu revelo” segue a mesma cadência com enfoque mais no conteúdo do que a sonoridade. Bem simpática. “O que vai ficar” devolve o peso ao CD e tem bem a cara do disco de estreia da banda e seu pop juvenil. “17” é um baú de lembranças, uma espécie de retrospectiva da vida, refletindo os passos dados na caminhada.

“Me conjugou” parece que vai ser mais uma balada, mas traz energia ao álbum com uma bela poética em o que me faz querer espalhar a paz que eu encontrei no dia em que o verbo amar me conjugou. Não bastando de balada, “Mais Que um Palpite” traz um back vocal que não anima nada, mas vale a mensagem evangelística.

Fechando ACALMANOCAOS está “Sempre está” com a sua forte reflexão final de gratidão pela presença divina nos momentos de caos na vida.

Mantendo sua identidade do primeiro trabalho e a qualidade do segundo, a Tanlan traz um novo registro que deve agradar os fãs que acompanham os passos do grupo. Para aqueles que esperavam um rock mais firme, terá que se contentar com metade do disco. Independente da preferência, a qualidade é garantida.

Bom vê-los na ativa, firmes na fé e relevantes na mensagem!