A família Valadão é bastante controversa, todo mundo sabe. Com seus altos e muitos baixos, eles tem influenciado a música cristã brasileira há décadas. Opiniões à parte, gostaria de convidar você a deixar o personagem de lado e focar apenas na música.
Como não costumo acompanhar o trabalho dele, o último disco que ouvi foi o bom Fé (2009), por isso, fiquei surpreso ao ver esse lançamento no Spotify. Confesso que até pensei ser algum homônimo, mas ao dar o play, era o próprio.
Fui pesquisar sobre a motivação por trás da produção de um disco nesse estilo e o resultado era o imaginado:
“Bossa Worship” será lançado fora do Brasil. Gravado em inglês, será lançado no exterior e carregará mais da nossa cultura musical e a unção que Deus tem derramado em nosso Brasil para abençoar os gringos.
Não é primeira vez que o André dá seus passos além-fronteira. Basta lembrar da parceria com a Delirious?, em 2008. Mas sendo esse o primeiro disco inteiramente em inglês, muito provável que ele também queria expandir sua atuação, mesmo dizendo que
A língua inglesa é a mais falada em todo mundo, e o nosso ritmo brasileiro #BossaNova é agradável ao ouvido de todos! Durante um bom tempo relutei em começar a registrar isto que sempre tive no coração. Mas a hora chegou! O tempo de #Deus é perfeito! (…) E a minha oração é que estas canções que já tocam a vida de milhões de pessoas, agora toque também com o nosso ritmo.
Composto de grandes sucessos internacionais, cantadas em suas versões portuguesas em muitas igrejas, André Valadão retorna a produção que ingerimos por muito tempo com uma roupagem “made in Brazil”, ainda mais sendo em Bossa Nova, um estilo considerado, muitas vezes, “tipo exportação”. Eternizada por mestres como João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, o gênero mostra a brasilidade com uma sofisticação e complexidade ímpar. E isso é perceptível em alguns momentos de “Bossa Worship”.
Quanto ao disco, ele se inicia com a badalada “How He Loves”, do John Mark McMillan. Alternando entre versos em inglês e português, a faixa mostra a alta produção com uma bossa bem sofisticada. No entanto não é das melhores faixas do disco. Creio que a escolha dela para a abertura tenha sido para atrair o público mais novo e mostrar a proposta do álbum.
https://youtu.be/aYotsI1YgIg
Rooftops (Jesus Culture) tem uma belíssima introdução bem brasileira. Exalando a atmosfera carioca, a faixa é bem equilibrada, bem amarrada e contagiante.
https://youtu.be/bgyfCvba4l8
Com um clima mais introspectivo vem a clássica Here I Am to Worship (Michael W. Smith), tocada em muitas igrejas. Sem trazer uma complexidade, fica o prazer de ouvi-la nessa versão tupiniquim.
Mas eis um problema do disco. As faixas Touch The Sky (Hillsong United) e Healer (Hillsong) seguem no mesmo ritmo ameno, dando destaque mais para a letra que para a releitura feita. How Great is Our God (Chris Tomlin), Mighty to Save (Hillsong United), Forever Yours (Gateway Worship) e Shout to The Lord (Darlene Zschech/Hillsong) seguem praticamente a mesma pegada morna da faixa 3. Isso, para mim, deixou o disco cansativo e monótono.
A grande surpresa ficou com a presença de The River (Jordan Feliz) na tracklist. Contemporânea, a faixa que já é excelente ganhou uma roupagem bem interessante nessa empreitada do André. Gostaria de ver a reação do Jordan com o resultado.
https://youtu.be/vOZ7FeiNfjw
Encerrando o álbum está a também clássica I Could Sing of Your Love Forever (Delirious?) tocada em 11 em cada 10 igrejas. Ela atua como um bom encerramento, devolvendo a energia e deixando o calor brasileiro em alta.
De forma geral, encaro esse lançamento com bons olhos, pois se deixarmos de lado o fato de ser Valadão e todo o contexto (obviamente, para aqueles que se incomodam), é um álbum bastante bacana. Pena que esse estilo, mesmo sendo produto tipo exportação, é pouquíssimo consumido no próprio país, quiçá nas igrejas. Quem sabe não sai uma versão em português para ajudar a mudar essa história, né?