REVIEW: Kanye West – Jesus Is King

Se você me dissesse a pouco tempo atrás que Kanye West estaria reunindo milhares de pessoas em um “culto” evangélico, acompanhado de coral e banda, falando abertamente de Jesus e fazendo versões de hinos clássicos da cristandade eu certamente daria uma boa risada. Pois bem, está acontecendo, todo domingo.

Jesus is King é o 9º álbum de Kanye West que já apareceu pela 10ª vez no topo Billboard 200. Lançado em 25 de Outubro, o álbum já vendeu mais de 300 mil cópias nos EUA e suas faixas já foram escutadas por mais de 200 milhões de vezes nas plataformas digitais. Como o título do álbum sugere, o conteúdo desse trabalho é completamente e explicitamente cristão. Sabemos que não é de agora que Kanye West flerta com a fé cristã, na verdade, desde 2009 ele tem dado a entender que vinha buscando um relacionamento mais sério com Cristo. Em 2014 no álbum The College Dropout ele lançou a já conhecida “Jesus Walks” que é quase uma oração, essa música causou um certo burburinho na época mas acabou passando batida. Em abril desse ano ele fez uma performance que mais parecia um culto no festival Coachella, deu o que falar. Por fim, ao que tudo indica, Jesus is King é a virada de mesa definitiva, um tipo de carta aberta onde West vem ao mundo dizer como tem sido sua jornada espiritual nesses últimos tempos.

Jesus is King (2019)
Jesus is King (2019)

Musicalmente falando, apesar de muito curto (menos de 30 minutos de música), o álbum é uma excelente e bem dosada mistura de soul, rap e gospel. Every Hour é a faixa de abertura do disco e já começa meio que no susto com um coral estridente no mais alto estilo gospel choir, uma boa surpresa digamos de passagem. Nessa faixa temos apenas coral e piano. Esse pequeno interlúdio termina inesperadamente assim como começou. O coral que nos acompanha em todo o disco fica a cargo do grupo “Sunday Service“, que é também o grupo responsável  pelos Sunday Services que o rapper tem promovido desde pouco antes do lançamento do álbum (vídeo no final do post).

Selah tem um ar misterioso, um órgão com uma pegada quase medieval é o background das rajadas furiosas de Kanye West que são posteriormente intercaladas com o triunfante coral entoando repetidas vezes: “Aleluia, aleluia, Ele é maravilhoso”. Toda essa tensão de abertura logo logo dá espaço para a nostálgica introdução da faixa Follow God que entra sem fazer cerimonias com um pequeno sampler da música Whole Truth – Can You Lose By Following God, essa música é repleta de batidas fortes e também conta com os graves característicos do estilo.

Closed on Sunday é uma das faixas mais melancólicas de Jesus is King. A letra  faz um contraste entre o sabbath dos judeus e a relação que os cristãos tem com o domingo. O repertório instrumental do disco surpreende, dessa vez com um dedilhado minucioso no violão combinado com os acordes vocais do coral ao fundo, nada de batidas.  A música faz também uma referência à rede de fast food americana Chick-fil-A que fecha as portas todos os domingos em respeito ao “Dia do Senhor”.

Os batidões tão esperados ficam por conta da faixa On God,  já estamos no meio do álbum e quando você se dá conta disso surgem os vocais em uníssono de Ant Clemons & Ty Dolla $ign na bela introdução de Everything We Need.

 

“E se Eva fizesse um suco de maçã?
Você iria fazer como fez Adão?
Ou iria dizer: ‘Vamos colocar isso de volta na árvore meu bem, nós já temos tudo o que precisamos.”
Apple & Eve é o nome de uma famosa empresa de sucos nos EUA. =)

 

Water dá sequencia em mais uma parceria vocal com Ant Clemons, a letra fala sobre pureza e usa a água como metáfora para ilustrar tudo isso.

Jesus, flua através de nós.
Jesus, cure as feridas.
Jesus, purifique a música.
Jesus, por favor, use-nos.
Jesus, por favor, ajude.
Jesus, por favor, cure.
Jesus, por favor, perdoe.
Jesus, por favor, revele.
Jesus, dê-nos força.
Jesus, ajude-nos a viver.
Jesus, nos dê abonança.
Jesus é a nossa fortaleza.
Jesus é a nossa rocha.
Jesus, nos dê graça.
Jesus, mantenha-nos seguros.

 

God Is fortalece o clima R&B/Gospel do álbum, de modo geral apresenta toda aquela pegada spiritual soul na qual todo o álbum buscou referências do começo ao fim. A gente demorou uma semana pra fazer esse review e as bandas já estão fazendo versões das músicas. Confira God Is por Bridge Worship.

 

Você nunca mais será o mesmo quando clamar o nome de Jesus.
Escute o que estou dizendo, Jesus me salvou, agora estou são.
Eu sei, Deus é a força que me colocou de pé.
Eu sei, Cristo é a fonte que encheu o meu “copo”.
Eu sei, Deus está vivo.

 

Em Hands On temos a participação especial de Fred Hammond, achei muito interessante esse convite por se tratar de um nome de peso da música cristã, uma bela carteirada. A letra é um misto de desabafo e um pedido de ajuda do próprio Kanye West. Totalmente compreensível se você gastar alguns minutos pela internet dando uma olhada na “calorosa”  recepção [contém ironia] que ele tem recebido de boa parte dos cristãos. 

 

Eu disse que faria um álbum gospel
O que você tem ouvido dos cristãos?
Eles serão os primeiros a me julgar
Fazer parecer que ninguém me ama.

Eu mereço todas as suas críticas.
Se isso é todo o amor que vocês tem, então é tudo que vocês tem.
Para cantar de mudança, você acha que estou brincando.
Para louvar o nome dEle, você pergunta o que eu estou fumando.
Sim, eu entendo sua relutância.
Mas tenho um pedido.
Não me despreze, coloque suas mãos sobre mim.
Por favor, ore por mim.


Use This Gospel conta com a participação dos irmãos Pusha T e No Malice  da dupla de hip-hop americana Clipse. No final da faixa temos um inusitado solo de saxofone do conceituado jazzista Kenny G. Essa parceria acabou acontecendo depois que o Kanye West contratou o Kenny G. para uma pequena surpresa de dia dos namorados para sua esposa, lance rápido, nada de mais, depois disso ele comentou que estava compondo um novo álbum e pediu uma participação que acabou rolando. 

 

Jesus is Lord é a faixa final do álbum, tem apenas 49 segundos, mas termina o álbum de forma bastante coerente. 

 

Todo joelho se dobrará, toda língua confessará.

Jesus é o Senhor!

 

O álbum é ótimo, fácil de escutar, todas as músicas são boas, as letras são bíblicas, as participações são abundantes e encaixaram bem, é um bom álbum de hip-hop, uma excelente contribuição para a música cristã. Como estamos falando de um artista muito famoso, a questão da relevância pesa muito, esse lançamento teve muita visibilidade e eu fico muito feliz em ver que o disco é liricamente sólido, nenhuma observação nesse sentido, só me deu a sensação que as músicas são curtas demais, na primeira vez que escutei do começo ao fim simplesmente não vi o álbum acabando.

Quanto a toda polêmica que tem girado em torno da conversão genuína ou não do Kanye West, não acho que a gente tenha que dizer qualquer coisa a respeito.  As letras falam de Jesus, ele tem dado testemunho (até onde sabemos) e o que podemos ver é que ele tem atraído pessoas para ouvir as boas novas, pessoas essas que talvez jamais seriam alcançadas pela nossa famigerada música gospel, sendo assim, espero que ele continue firme em sua fé, oro para que ele seja discipulado (assim como todo cristão precisa ser) e que ele encontre nas escrituras as respostas que  tanto precisa, as mesmas respostas que estamos buscando, todos nós.

Abaixo um registro dos “cultos de domingo” que tem atraído fieis, fãs, curiosos, paparazzis e todo tipo de gente. Nesse registro tem de tudo um pouco, desde músicas do álbum “Jesus is King”, versões de músicas famosas transformadas em “música gospel”, hinos, coral,  pregação, apelo, momento espontâneo e tudo o mais que um bom culto pentecostal afro-americano tem direito. Vale a pena assistir até o final, qualidade de vídeo e áudio 10/10. (confira a performance de Closed on Sunday entre os minutos 00:17:30 e 00:20:00 do vídeo)

 

 

Jesus é Rei!