Depois de cinco anos sem qualquer lançamento, eis que temos mais um álbum de estúdio da banda The Almost, ou como gostamos de brincar: a banda de férias do Aaron. Aliás, Aaron Gillespie já foi abordado aqui outras vezes vale lembrar. Fear Caller é o nome do projeto e vamos discorrer algumas coisas por aqui.
É notório que os fãs mais professos sentirão uma grande diferença no conteúdo de Fear Caller. Sem necessidade de rotulação, não é um disco que devemos chamar de ‘disco cristão’. Se é que algum dia algum álbum do The Almost foi rotulado como tal.
Mas as canções como “Hands”, funcionando como uma reflexão sobre responsabilidade e “Say This Sooner”, trazendo uma mensagem sobre a visão diferenciada de alguém que tem a perspectiva da fé, enfim, não são uma realidade mais. (Vale ressaltar que essas canções fazem parte do segundo e primeiro álbuns da banda respectivamente ). Não dizendo, é claro, que isso possa ser interpretado de maneira ruim, dependendo do viés.
Digo isso porque, musicalmente falando, Fear Caller é extremamente bem produzido. A qualidade de gravação que encontramos desde o último projeto, Fear Inside Our Bones, soa gritante demais. Um ponto positivo para o selo da Fearless Records (estamos muito emblemáticos com a palavra “fear” nesse parágrafo), que produz atualmente o conhecido Underoath.
Com 12 faixas e lançado no último dia 18 de Outubro de forma oficial, as canções divergem entre roupagens novas e músicas que podemos dizer de cara que são do repertório do The Almost, seja pela as viradas de bateria já nos segundos iniciais ou pela voz limpa do Aaron.
Citando alguns: “I Want It Real”, segunda faixa, poderia ser facilmente encontrada em Monster Monster ou Southern Wheater, por exemplo. Já “Tame a Lion”, terceira faixa, tem um incrível saxofone em seu instrumental e, pasmem, encaixou melhor do que qualquer riff de guitarra.
Mas ressalto que é um projeto um cado depressivo. Sabemos que desde 2016, Gillespie não passa por um momento bacana da sua vida, acredito eu pelo episódio do divórcio com sua esposa. E isso tem refletido muito em seus posicionamentos recentes e na carga dramática, e algumas vezes preocupante, de suas composições.
Li que o disco foi gravado no deserto (pera, a gravadora tem um estúdio no deserto?) e não sei se foi intencional soar como metáfora. Esse é o trabalho desértico do The Almost. E nesses tempos onde se prega a empatia pelos problemas de cunho mental e psicológico, nada mais justo do que fazer algo que não costumo fazer por aqui: você leitor, que gosta do trabalho do The Almost e do Aaron assim como eu, lembre-se dele em suas orações.
Eu definitivamente não sou contra as músicas, e muito menos as deixarei de escutar. E nada mais belo, artisticamente falando, do que um projeto que reflita as suas mazelas e como expressar você mesmo através do seu trabalho. Nada mais autoral que isso.
Mas trechos literais que falam sobre “fantasmas que não deixam de persegui-lo“, “sobre ter nascido para ser baterista e falar a verdade, mas que acabou mentindo e se tornado inútil” e “dormir soa como uma droga” (“Why Do You Bother Me, “I Think I Am” e “In God’s Country, respectivamente), relatam de forma muito direta a atual fase, aparentemente não boa da vida do Aaron. Fear Caller funciona como um espelho em um farol.
Entre outras coisas, como relatei anteriormente, é um ótimo disco. Talvez o mais balanceado de todos quando se trata do conjunto. Nenhuma faixa se sobressai, mas nenhuma apaga o mérito da outra. Achei até a disposição das músicas muita coesa e funcional, sem uma quebra de ritmo aparente (ensinem o Colony House, pelo o amor de Jeová). Meu Quase Lá do título da matéria é apenas intencional em relação às letras, o que não tira o brilho da obra.
E mesmo com aquela tatuagem horrível no pescoço, Aaron Gillespie sempre vai ser um sinônimo de “mano, esse cara saber fazer música”.
Confira o primeiro single, “Chokehold”: