Eu na sua pele: um breve rascunho sobre um recém acampante do Rock no Vale 2017

Poderia fazer dessa postagem uma crônica, ou desabafo, ou até mesmo uma descrição completa da Line Up desse evento, que desde quando não fazia eu parte da casa dos 20, ansiava em ir. E ao mesmo tempo que fui acampante, rockvaliano, fui também representante do AM, pedindo já desculpas pela live pequena do RockBox. De qualquer forma, eu resolvi apenas divagar por essas linhas mesmo.

A proposta do evento em questão é muito interessante: “Hey, vamos trazer bandas confessionais e não confessionais, trazer preletores para discutir o Reino e também vamos falar sobre Sustentabilidade, nesse acampamento repleto de verde, ladeiras e com espaço suficiente para as pessoas trazerem barraca e aproveitarem ao máximo esse Jam todo”. Eu diria que é muito mais do que isso.

Primeiro: o fato de cada pessoa que comprou um ingresso full ter ganhado outro, me possibilitou levar um amigo de faculdade que eu não via cerca de um tempo e isso foi extremamente significativo. Sem contar que, mesmo com todas as indicações possíveis de acampantes anteriores em não comprar o ingresso barraca, mas sim o alojamento, fomos contra a esse instinto e nos descobrimos, eu e meus queridos amigos que compraram a ideia louca de alugar um carro no Guarujá e pegar a estrada sem noção nenhuma dela até Arujá, exímios montadores de barracas de camping.

Segundo: Como toda e qualquer conferência barra congresso barra encontro, conhecer pessoas é um grande diferencial e faz a vida ficar mais leve. A troca de experiências e esse choque de culturas ainda está entre as coisas mais sadias que o ser humano pode vivenciar. Fizemos amigos do Paraná (aqueles presbiterianos loucos), de Minas Gerais (casal simpático do café da manhã), e como eu queria ter trocado umas palavras com a menina que veio do Amapá e dizer com todas as letras: CORAJOSA! Infelizmente só descobrimos essa peripécia no encerramento do festival.

Terceiro: Mas que LINE UP, sensacional, Rock no Vale! A minha depressão em não ter ido nos anos de Supercombo, Quarto Fechado, Palavrantiga, entre outros, foi curada com êxito em poder cantar ao entardecer do sol “Tudo no mesmo lugar” com o Paulo Nazareth; por presenciar pela terceira vez o talento surreal do Alexandre Magnani; em curtir sem receio de ser feliz o cunho meditado de “O que sobrou do céu” interpretado pelo Voltare e, até mesmo, finalizar o evento entoando a letra atemporal de “Isaías 9” quando falamos do Rodolfo Abrantes. (Ainda estou sofrendo pelo fato de ter dormido na hora do Rashid, mas relevamos).

Só que um fato me chamou muita atenção e não, não foi o fato dos copos personalizados em prol de não usar descartáveis, ideia essa que com certeza vou levar pra vida. Mas o fato de que sim, eu posso dizer que de alguma forma sim, o evangelho que se preocupa com a justiça social, que se orienta em prol do próximo, que transcende barreiras econômico-sociais, que levanta a bandeira de que a salvação é evidenciada na minha capacidade de relacionamento para com Deus e para com os outros, sim, esse evangelho é real e está cada vez mais próximo de nós. Adorei a sutileza em que o festival, de forma implícita e indireta, deixou cravado isso em nossas histórias.

E nenhuma canção mais adequada do que “Eu na sua pele” para finalizarmos esse desabafo (realmente foi um), do que essa que posso considerar a música tema do meu relacionamento pessoal com o festival. Apenas algumas palavras: “Eu digo que você pra mim não é só problema seu, é meu também, já que é tudo nosso aqui!”

Vida longa ao Rock No Vale!