Sabe aquela feijoada farta de domingo, cheia de sabor, mas que te deixa mole? Assim é Colcha de Retalhos. A fartura do disco tem um preço: muitas horas de digestão para processar tudo o que se ouviu. Um caldeirão de referências musicais, literárias e culturais que você se maravilha ou se perde dentro dele.
O fato de reunir todo o coletivo, cada um com sua voz e bagagem, mostra a maestria de Marco e cia como chefs de cozinha que sabem extrair o melhor de cada ingrediente – vulgo, artista. Mesmo se diluindo num único prato, é possível sentir o sabor que cada um tem naquela mistura e como são imprescindíveis para chegar nesse resultado. Isso não é um trabalho fácil. É estudo, talento e muita barriga no fogão.
Contudo, uma feijoada assim não é para todo mundo. Estômagos mais sensíveis ou não acostumados podem achar que o prato passou do ponto. Achando que o que há de riqueza, há de excesso.
A comparação é desproporcional, mas enquanto Calmará transita em muitas propostas no seu disco de estreia e tudo parece bem dosado, aqui, olhando o álbum como todo, talvez ele seja um pouco além da conta. Enquanto canções individuais, as porções são robustas. O todo pede muitas folhas de louro. Ainda mais que tem gente que pode ter indigestão em “Louvor em Brasilês”, por exemplo.
O mais curioso é que a melhor faixa do álbum é justamente uma Prosa. O diálogo entre Telles e Da Guia é o coração artístico e teológico do coletivo. Como dois cozinheiros que conversam enquanto preparam a comida. Brilhante, profundo e transformador. No álbum, é uma pausa para limpar o paladar para o que ainda há de vir.
Colcha de Retalhos vai deixar muita gente de bucho cheio, indo para a rede. Mas pode ir fazer a digestão que, apesar de ser pesado, ele nutri muito bem o corpo, a alma e a fé. É um álbum de sustança.