Discorrer nas próximas linhas sobre o rock alternativo dos californianos do Switchfoot não pode ser considerado desafio nenhum. Talvez temos aqui até um equívoco, já que apenas os membros Jon, Tim e Drew são californianos raiz. Chad é natural de Amsterdam e quase não conseguimos observar esteticamente que Jerome é filipino, não? (aquela chuva de cultura inútil que todos nós gostamos de adquirir). Concluindo: falar sobre Switchfoot é fácil.
Agora ter que falar sobre Learning to Breathe, o primeiro álbum a ser nomeado à um Grammy, não é fácil. Nem pro guarujaense fundador do fã clube caiçara que tem como único e principal membro: eu.
São duas décadas de um dos principais projetos de difusão internacional da banda, afinal, além de trazer Switchfoot aos holofotes do Grammy em 2001, indicado como melhor álbum de rock gospel, temos também “I Dare you to Move” (antes de perder o I do título, outra surra de cultura inútil) aparecendo no aclamadíssimo filme entre as adolescentes que nasceram nos anos 90, A Walk to Remember.
Sem contar no slogan do movimento To Write Love On Her Arms, vindo diretamente da canção “Love is the Movement”, que é praticamente um hino de celebração ao próximo e empatia. Os backing vocals de Darwin Hobbs auxiliam demais na construção dessa ambientação e ela é uma das minhas favoritas desse compilado todo.
Agora falemos de Learning to Breathe, não é mesmo?
Learning to Breathe é um álbum para perdedores. Sim. Direto e reto, e também não quero usar tal expressão de forma baciada ou carregada de antropocentrismo. Ou também dar um jabá, embora que merecido, para o tipo de rock alternativo que não cresce de “The Loser” (raramente você encontra outras canções da banda com esse tipo de “pegada” ainda flertando com o post grunge do início dos anos 2000).
As onze composições, todas compostas inteiramente ou em parceria por Jon Foreman, celebram de certa a forma a reavaliação dos parâmetros de construção pessoal e social com base no evangelho, e não ao contrário.
Desafia a acreditarmos que perder é ganhar e que as quedas são eminentes, porém não permanentes. Desafia em enxergarmos que a principal promessa já foi cumprida e de que movimentos pautados no egocentrismo do nosso ser, mascarados por vozes atuantes, perdem vez se o amor ao próximo não for o intuito.
É complicado enclausurar todas as ideias e, talvez, nunca foi esse o intuito. Como a canção “Living is Simple” brinca com ela mesmo : “Ei, o último dos últimos é o primeiro, deve ser ficção ou divina comédia?”. As interpretações de um álbum tão denso liricamente, sendo realizadas de forma conjunta ou separadas, apontam para a conclusão de que a nossa jornada é sempre um aprendizado.
E aprendizado, senhoras e senhores, não depende de categorias, mas unicamente se dentro de nós mesmos, somos desafiados a nos mover.
That’s all, folks. Feliz aniversário, Learning to Breathe.
Curiosidade 1: Learning to Breathe completa 20 anos dia 26 de Setembro e foi produzido pela Charlie Peacock Productions. Foi o último disco da banda como um trio (Jerome ingressa no próximo disco, The Beautiful Letdown e Drew em Nothing is Sound)
Curiosidade 2: A versão de “Dare You to Move” desse disco é levemente diferente da versão de The Beautiful Letdown. Esta segunda, sendo minha favorita, tem mais peso nas guitarras e tem o começo da era screamo/gritante do Jon Foreman que ele só foi perder em Fading West.
Curiosidade 3: Teremos uma celebração da própria banda sobre os 20 anos de Learning to Breathe. Mais informações no site oficial.