De tempos em tempos aparecem pessoas que inspiram e nos fazem querer usar a criatividade à serviço do Reino. Aqui no Apenas você já deve ter sentido isso muitas vezes. Hoje existe a chance disso ocorrer novamente. Dessa vez entrevistamos o Moah, um cara de São Paulo que tem feito barulho em várias partes do mundo.
Vindo da escola do rock, mas com um grande pé no rap, ele tem liderado diferentes projetos culturais, seja na música e arte em geral, inspirando pessoas em vários países. Bora conhecer mais um pouco do seu trabalho?
AM: Primeiramente, obrigado por topar uma entrevista com a gente!
Moah: De nada! É uma honra, porque admiro muito a caminhada do grande Danilo Cardoso (;
AM: Recentemente você foi para o Woodstock Poland, que é um dos maiores festivais de cultura do mundo. Como foi a experiência e qual o impacto que isso teve em sua vida?
Moah: Sim, estive lá em agosto de 2017. Foi a minha terceira vez no festival! Teve um impacto brutal na minha vida, é o maior festival de musica a céu aberto da Europa, mais de 800 mil pessoas, entrada gratuita e todos os tipos de loucos haha… Todas às vezes que fui para esse festival, fui com o objetivo não só de se divertir, mas com um servir àquela comunidade.
Além de todo o clima de entretenimento e diversão, uma das coisas que mais me chamou atenção foi a quantidade de pessoas com borderline (nível de depressão que a pessoa se corta, geralmente os braços) ou conversando com outros deles, já não tem esperança, perspectiva de vida…
Acredito que toda vida importa e somos criados à imagem e semelhança de um Deus que nos ama e enviou seu único filho para morrer em nosso lugar, Jesus Cristo. Acredito que Ele ama as pessoas que frequenta o Woodstock e quer transformar a vida deles, curar as feridas, dar propósito, esperança e perdoar os erros do passado.
Fazemos isso com um grupo organizado pelo polonês, Philip Pasek que há 10 anos tem ido ao Woodstock fazer isso e já viu muitas pessoas ter a vida transformada pela mensagem revolucionária de Jesus. Quando eu fui estava com um grupo do Steiger, o ano passado conheci o Luca Martini lá, foi louco e rendeu um vídeo muito louco que viralizou.
AM: Hoje você está a frente da Lumière. Como tem sido a repercussão do som da banda em termos de cena e Evangelho? Como foi trabalhar no Tooth Studios?
Moah: Sim, estou tocando com a Lumière e está sendo muito louco estar em uma banda nova na cena, fazendo um som com amigos de longa data e com um propósito muito grande! A repercussão tem sido muito forte nesse aspecto, nosso objetivo tem sido tocar para públicos não-cristão, para que eles tenham a oportunidade de ouvir o quanto Deus os ama , que o sacrifício de Jesus foi para que pudéssemos ter um relacionamento com o nosso Criador, ter nossos erros perdoados e tirar o peso das nossas costas.
Já tocamos em festivais na rua, casas de shows, praças, pistas de skate e muitas pessoas tem agradecido muito depois dos shows, por trazer uma mensagem tão forte e tão poderosa.
No show de Diadema um cara que assistiu o show nos disse que estava pensando em suicídio dias antes e depois de ouvir a mensagem tudo mudou!
Nosso primeiro show foi há 6 meses e já vivemos tudo isso. Somos muito gratos e acreditamos que tudo isso é fruto de oração e deixarmos a mensagem muito clara!
Agora estamos trampando em um novo EP!!!
AM: Você é bem ligado à missões urbanas, tendo tocado recentemente na Glocal. Como é ser um artista cristão influente na cena independente?
Moah: Estou envolvido com o Steiger Brasil por pelo menos os últimos 5 anos e acredito que todos temos um propósito na vida e tenho certeza que o propósito da minha vida é levar esperança para quem não tem, levando a mensagem que transformou a minha vida, que é a historia de Jesus.
Pra falar a verdade tem sido um pouco solitário, porque os artistas cristãos em sua maioria não comunicam com o lado de fora da igreja, que é onde aponto meu trabalho, tenho orado e trabalhado com o Come&Live para que mais artistas percebam que Deus atua de forma poderosa do lado de fora da igreja e que essa mensagem pode transformar vidas em qualquer tipo de ambiente.
Vivemos em um momento em que falamos muito sobre influência, mas não sobre conteúdo, porque quem influencia, tem de influenciar alguma coisa. No geral os “influencers” são vazios e têm influenciado para coisas rasas. Até por isso, vemos um alto número de influencers perdendo a credibilidade nos últimos meses.
E na real acredito que todo mundo carrega uma influência, a responsabilidade está no que estamos influenciando as pessoas fazerem, porque cada vida tem um valor imensurável.
AM: Poderia falar um pouco sobre o Come & Live?
Moah: Somos uma comunidade global de artistas comprometidos com o objetivo de levar a mensagem revolucionária de Jesus pro lado de fora da igreja, provocando e inspirando criativos de todos os estilos e gêneros, para através de sua arte compartilhar o Evangelho com essa geração de uma forma relevante.
Tem sido incrível fazer parte disso junto com o No Longer Music, Brian Head, Chad Jonhson, o Alex do Medulla, Alegorica, Suitcase Sideshow…
AM: Lembro de ter ouvido seu trabalho no longíquo 2008, com a No More Lies. Você sente saudades dessa época?
Moah: Sinto muitas saudades, éramos muito jovens, nos divertíamos muito e, até hoje, temos um grande laço de amizade. Construí muitos relacionamentos nessa época e aprendi muito sobre com esses caras. Bons tempos!!!!
AM: De vez em quando tenho visto seu material como rapper nas redes sociais. Fale um pouco sobre isso e também sobre o movimento Afropunk.
Moah: Eu me entendo hoje como um criativo, sempre estive criando! Fazia música, fazia flyers, produzia eventos, escrevia zines, fotografava e cresci ouvindo rap. Inclusive uma das minhas bandas favoritas é Rage Against The Machine e Planet Hemp!
Quando fiquei sem banda em 2016, sempre colando no estúdio do Locaut fui inspirado a fazer umas rimas, eu curti a experiência, ele me ajudou muito e até hoje to dropando umas paradas!
Consequentemente Afropunk me inspira muito, assisti o documentário em 2014 se não em engano e descobri o festival, fui impactado pela estética também, mas como eu vim do rock, sou negro e sempre ouvi música negra… Afropunk definiu muito do que eu sou! Antes de conhecer o termo eu já era um afropunk e quando descobri me deu mais liberdade pra assumir que eu poderia ser uma voz no rock sobre toda a questão racial e que eu tenho atitude punk e posso fazer o que eu quiser, inclusive rap.
Em 2017, tive a oportunidade de ir na edição de Atlanta do festival e foi muito importante como artista e também como público, assisti shows de bandas que pirava como: Willow Smith, Denzel Curry, Flatbush Zombies e até da Solange (irmã da Beyoncé). O que me surpreendeu foi perceber que o público é uma das atrações do festival, cheio de atitude, personalidade, sem medo nenhum de serem eles mesmos. Totalmente o oposto do que enfrentamos em nosso cotidiano!
AM: 2018 foi um ano de Copa e Eleições. Como cristão, você acredita que devemos ter algum posicionamento ou atitude específicas nesse período de escolhas do país?
Moah: Como cristão eu tenho vergonha de muitas atitudes que acabam soando como se pra seguir a Jesus você tem que abraçar todo um pacote político. Inclusive o Messias era esperado pelo povo para mudar a situação política na época, mas Ele mudou muito mais do que isso, mudou nossa situação espiritual. Muitos religiosos não entenderam e se revoltaram inclusive, fez parte da história de Jesus e conosco não seria diferente.
Mas acredito que todo o povo deve estar alerta, estamos em um momento frágil do nosso país. Mas não acho que só na época de eleição devemos ficar ligados, mas sempre!
Na verdade, temos que prestar muito mais atenção na gestão dos políticos que estão eleitos e cobrarmos de forma efetiva o que não nos tem agradado. Pesquisem diferentes fontes ou você vai acreditar no que apenas uma mídia está te apresentando?
Pra fechar, somos todos iguais e queremos o melhor pro nosso país, todos! Acredito que podemos conversar com mais respeito e compaixão. Cresci vendo ataque a oposição apelidada de propaganda política e agora eu vejo o povo atacando um ao outro, falando que tão conversando sobre política. Isso não vai mudar a mente de ninguém, só gera mais ódio!
Tenho orado pelo meu país, pelo povo, pelo momento difícil. Tenho certeza que Deus se importa com nossa luta!
AM: A internet tem sido uma das maiores interfaces entre você e quem consume seu conteúdo. Isso muda a forma de criação do conteúdo ou é indiferente para o artista?
Moah: Muda sim, tenho conversado isso com produtores musicais, produtores de evento, inclusive curto muito consumir novos conteúdos, sou pilhado até hoje na campanha dos 4 compactos do Medulla que um veio em fita K7, outro em playbutton, outro myspace e outro CD se não me engano… Curto muito o EP que o Jaden soltou em formato de um app pra celular.
Essa era de internet trouxe vários pontos negativos também, mas eu já cresci dentro dessa era. Desde quando comecei a consumir musica eu já fazia download. Veio pra ficar!
Precisamos usar isso ao nosso favor, sermos criativos, esse é o nosso trabalho como artistas.
Mas minha banda lançou 4 singles, cada um com clipe, e no meu trampo solo tá rolando bastante clipe também, porque o Youtube é uma plataforma forte! Criamos o trampo pensando nisso, assim como um artista criava antes pensando em um disco.
E a existência de um formato não mata o outro, agora existem mais possibilidades e eu acredito muito em disco, ainda quero gravar uns discos. Quem sabe até em vinilzão mesmo…