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Orange, 13 Reasons Why e How To Save a Life

Música não é apenas diversão. Acredito que cantores e bandas possuem uma função social de influência na vida de inúmeras pessoas. Seja por sua abrangência, seja pela poética da sua mensagem, através da arte, a vida se comunica.

Quem nunca se identificou com alguma música por ela evocar algum sentimento ou experiência? Ou quem nunca viu sua vida ser expressa por meio de uma canção? No meu caso, por exemplo, Quase Sem Querer, da Legião Urbana, e Perfect Time, da Moya Brennan, são as músicas que representam quase perfeitamente minha vida.

Pensando nisso tudo, nessas últimas semanas eu estava re-assistindo o anime Orange (veja aqui) e vendo a segunda temporada de 13 Reasons Why (disponível na Netflix). Acredito que a série de Hannah Baker e Clay Jensen dispensam apresentações. Já para quem não conhece Orange, ele se trata de um mangá/anime que conta a história de 5 jovens que enviam cartas para eles mesmos há 10 anos com o objetivo de salvar um amigo que comete suicídio. Na trama, Kakeru é um garoto que se sente culpado pela morte da mãe e tem grandes dificuldades de lidar com isso, mas além de não procurar ajuda especializada, ele não se abre com os amigos, pois não queria comprometer a amizade com sua dor. A história é contada de forma delicada, mas com uma profundidade emocional absurda. Não há uma vez que eu assista e não me sinta impactado com a narrativa.

Se eu fosse aprofundar a discussão do anime ou entrar no complexo universo de 13 Reasons Why esse post teria a extensão de uma dissertação de pós-doutorado, mas o que eu queria trazer aqui é uma frase que ecoou e ainda ecoa na minha mente: “como salvar uma vida?”. Dentro de uma cultura insensível e egoísta em que vivemos, como perceber quem sofre ao nosso lado muitas vezes em silêncio? Como entender que ser sorridente nem sempre traduz ser/estar feliz? Como evitar o arrependimento de não perceber a dor alheia?

“Desculpa por não percebermos que você sofria enquanto estava sorrindo”, essa é uma das falas que mais marcou em Orange. “Às vezes, os jovens guardam segredos não para se proteger, mas proteger os outros”, destacou um diálogo em 13RW. Há muita gente pedindo socorro neste momento em que você está lendo este post, quem sabe até mais perto do que imagina. E o que você tem feito?

A pergunta que me inquieta me fez lembrar da The Fray com a icônica canção que a projetou e deu nome ao seu disco de estreia, em 2005. De acordo com a banda, a canção How To Save a Life foi inspirada pela experiência do vocalista Isaac Slade como tutor de um jovem viciado em crack. A letra retrata os desafios vividos por ele em sua recuperação, demonstrando o sofrimento proporcionado pelo consumo de drogas.

A canção é mais um memorial sobre sua lenta descida e todas as relações que ele perdeu ao longo do caminho, diz a banda.

Em determinado trecho da música eles cantam:

“Onde foi que eu errei?
Eu perdi um amigo em algum ponto da amargura
Eu teria ficado com você a noite toda
Se eu soubesse como salvar uma vida”

Drogas, depressão ou suicídio, esses temas precisam ser abordados com franqueza e sabedoria em casa, na escola/faculdade, trabalho, na igreja e também na música. E da forma mais importante: com o máximo de empatia possível. Lembro bem o quanto eu chorei com os últimos episódios da primeira temporada de 13RW, o sofrimento de Hannah e a indiferença/confusão dos que estavam ao redor dela era totalmente compreensível para mim. A vida humana é muito mais complexa do que imaginamos e se engana quem acha que a dor de pessoas como Hannah e Kakeru é apenas frescura ou poderia ser resolvida com um pouco mais de força de vontade. Quem passa por isso sabe a prisão que é, sabe o sentimento de confusão e impotência que toma conta do ser.

Um exemplo dessa experiência é a vivida pelo rapper Jomo Kenyatta no seu recém lançado Conversations With Jesus Before Suicide (Conversas com Jesus antes do suicídio). De forma extremamente honesta e sem censura, ele detalha sua tentativa de suicídio e sua luta contra a depressão. O músico passou 10 anos trabalhando nesse disco e revela que

Ser autêntico e transparente pode ser a coisa mais assustadora da vida. Isso é especialmente verdadeiro quando você é uma figura pública.

Isso traz à tona outra discussão: as pessoas estão prontas para ouvir a verdade dos que sofrem? Será que você é uma pessoa na qual quem sofre pode confiar? Você sabe como salvar uma vida?

Termino esse texto com as palavras do próprio Jomo e a sua intenção com esse disco aparentemente polêmico:

Minha esperança que este álbum traga consciência para a realidade que não podemos mais medicar nossa dor. Em vez disso, devemos comunicá-la, ao fazê-lo, podemos experimentar a verdadeira cura que está disponível para todos nós.

Que Deus nos dê sensibilidade.