C.S.Lewis é um velho conhecido de todos nós. Além de escrever incríveis histórias fantásticas e nos presentear com personagens inesquecíveis (Aslan, Edmundo, Lucia, Aravis, Eustáquio), ele ainda se tornou um dos grandes apologistas do Cristianismo no século XX. Com frequência, Lewis ia BBC e falava sobre os mais variados temas além de Nárnia. Esses discursos radiofônicos se tornaram livros fantástico como Cristianismo puro e simples; Peso da glória e O problema do sofrimento.
Em uma estrada diferente, C.S.Lewis contribuiu com o Guardian escrevendo cartas semanais sobre os dilemas e tentações da vida cristã e da nossa humanidade. O próprio Lewis afirma que o teor das cartas eram confabulações a partir das observações que ele fazia sobre os cristãos e as suas fraquezas.
O fato é que as cartas viralizaram. As pessoas se identificaram. Elas reconheciam de forma prática com a constatação de Paulo de que não temos que lutar contra carne e sangue. E as colunas semanais do Guardian, se tornaram um dos livros mais vendidos do Lewis (e também cheio de interpretações sem leitura já que as pessoas fazem um juízo prévio do livro pelo título): Cartas de um diabo a seu aprendiz ou Cartas do Inferno.
No livro, um grande demônio chamado Screwtape vai dando dicas ao seu pupilo sobre como induzir o ser humano ao pecado. A visão de Lewis é primorosa, abrangente e sarcástica. É impossível ler e não se reconhecer nas situações. É impossível ler e não relembrar que há uma guerra constante no mundo espiritual por nossas vidas.
O velho e sarcástico Screwtape nos lembra em suas missivas a necessidade de nos autoexaminar diariamente, porque a tentação vem em doses pequenas de vaidade, orgulho, egoísmo, intelectualidade e relativismos mil. Lewis pega o megafone e anuncia o quanto somos frágeis e que pequenas coisas podem nos despedaçar.
Cartas do Inferno é um livro para ser lido e relido ao longo da vida.
Atualmente quando um livro é muito bom e nos apegamos aos personagens surgem continuações da história pela perspectiva dos fãs, este fenômeno é conhecido como fanfic e é muito comum entre os adolescentes por exemplo. As cartas de Screwtape para Wormwood ganharam a sua própria fanfic, que para nossa alegria é musical.
Ano passado os irmãos mais legais do Texas, Maggie e Tyler Heath, lançaram o segundo álbum de sua banda (The Oh Hello’s), em uma referência clara e inequívoca à obra de C.S.Lewis. No seu primeiro álbum eles trouxeram uma canção inspirada em Lewis, chamada The lament of Eustace Scrubb, falando sobre os sentimentos do menino chato dragão de Nárnia (amo TANTO essa música); desta vez eles extrapolaram (para miiiinha alegria) e fizeram todo um álbum homenageando Cartas do Inferno.
Segundo a Maggie, o álbum é a fanfic dos dois irmãos sobre um livro que foi marcante para eles.
Nas palavras do Tyler:
“Cada capítulo de Cartas do Inferno começa com as palavras “Dear Woormwood”, porque é uma coleção de cartas escritas por este mal-humorado demônio, mais velho nos círculos mais baixos do inferno para um jovem tentador em campo, cujo trabalho é levar uma pessoa a se perder. Eu li várias vezes e fui profundamente marcado, porque eu vi muito de mim mesmo e das muitas coisas que luto contra no livro..”
O Tyler escreveu a canção tema (Dear Wormwood) em meio a sua luta contra seus próprios demônios e sua vontade de se auto conhecer e ser melhor.
O álbum não transformou em música os capítulos de Cartas do Inferno; e sim continuou a partir da própria experiência a proposta do livro falando sobre as lutas pessoais que travamos (mesmo sem saber) todo dia. É um projeto bem pessoal e ainda assim universal porque todos nós conhecemos e entendemos o cansaço de lutar contra nossas tentações.
Trabalhos como o de Lewis e do The Oh Hello’s são importantes porque reafirmam a antiga verdade de que não estamos sozinhos em nossas batalhas. Outros humanos estão em lutas semelhantes. E todos nós temos um Consolador para nops ajudar. O livro e o álbum apontam de maneira geral para o cuidado que devemos ter com nossa alma. São um convite ao autoconhecimento. Mapeie suas fraquezas, nomine-as, conheça seu Inimigo, não confie em si mesmo, ponha a sua confiança no que te chamou para a guerra.
Dear Wormwood,
você não vai vencer.