Judeu Marginal: por um rock não domesticado

Não precisa ser um grande estudioso do estilo para formar na cabeça a imagem de rebeldia quando se ouve a palavra ROCK. Se um dia ela já foi sinônimo de protesto, revolta e do espírito indomável de uma juventude contracultural, hoje, muitos a entende como um produto capitalista, domesticada pelos interesses do mercado, com seu grito abafado ou amordaçado pelos interesses de quem lucra. Há também quem diz que o rock está morto e o que temos é um fantasma que não consegue mais ter a força de seus tempos áureos. Parafraseando Salomão, dizem que não há nada de novo debaixo desse sol musical.

Contudo, seguindo nos versos bíblicos, há esperança para a árvore que, mesmo cortada, ainda se renovará. Se o rock já não tem o mesmo vigor de outrora, o pulso ainda pulsa e a prova disso é a Judeu Marginal. O trio carioca surgiu no caos pandêmico e já “chuta a porta” com apenas dois singles (até o lançamento desse artigo). Contando com o trabalho de mixagem e masterização do Jorge Guerreiro (Pitty, Titãs e Sepultura), a banda ressuscita a essência do estilo: o inconformismo. Falar nisso pode soar clichê e até pretensioso mas, de fato, é verdade. Mais que música, o grupo é posicionamento. Basta olhar as publicações feitas no perfil da banda no instagram que verá que há opinião formada sobre tudo. Entendendo que não se trata só de música e diversão, para eles a arte é um ato político e profético. Político por se posicionar na sociedade, profético por apontar os valores do reino.

 

Dar a cara a tapa mesmo com tão pouco tempo de estrada pode parecer loucura (ou até arrogância), mas não será que precisamos justamente disso? Em uma sociedade que valoriza quem vai “fazer gozar em cinco minutos”, o silêncio dos cristãos tem um preço muito alto. E para a arte também. Se não foi nos dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio, não podemos se envergonhar de testemunhar do Senhor na música e nas redes.

Ouvir Judeu Marginal é ver que um fruto sagrado germinou na nova geração. Marcão fez bons discípulos que se inspiraram no trabalho inteligente e crítico dos conterrâneos dos anos 80. Se você ouvir a faixa “O Messias” com os olhos fechados sentirá que ela poderia fazer parte de qualquer disco do grupo. Sem falar pela coragem de também apontar o dedo na cara da igreja-instituição. Por isso, mesmo que ainda sejam dois pequenos tijolos, o trabalho desses marginais vem fechar um pouco do buraco deixado por eles na cena.

Não se deixar ser domesticado é preciso. Não como um discurso vago, de uma rebeldia superficial, mas de não ser permitir mais ser sufocado por uma religiosidade alienada e uma sociedade doentia. É preciso ser um rock que obedece a Deus, de uma fé que crê e pensa, de fiéis que gritam, mas que choram pela dor alheia, que incluem os excluídos no seu amor ao próximo.

A esperança está nos inconformados. E que bom que ainda temos resistência. Vida longa a esse judeu marginal que faz arte com coragem, teologia e cheiro de rua.


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