Durante os anos 1980 e 1990 muitas produções cinematográficas foram feitas visando o mercado cristão. Nada feito por grandes estúdios, mas produzidos por empresas menores, geralmente ligadas às igrejas ou ministérios. Esses filmes chegaram às classes de Escola Dominical, lares, escolas… Me recordo de ter visto vários deles quando era moleque. Era tão comum que inclusive bandas chegaram a ter filmes (como fã não posso deixar de citar o filme “Beyond Belief” da banda americana Petra). Mas o interesse por esse tipo de cinema diminui nos anos seguintes pela falta de algo primordial: boas produções.
A coisa toda recomeçou numa igreja americana chamada Sherwood Baptist Church, quando um de seus pastores, Alex Kendrick, resolveu fundar a Sherwood Pictures e produzir o filme “A Virada”, em 2003, fruto de uma parceria com a Provident Films. Dirigido e estrelado pelo próprio pastor, o filme teve um orçamento de 20 mil dólares e tem diversos membros da igreja no elenco e nos cargos técnicos, desde a filmagem até a edição. Depois de arrecadar quase o dobro nos cinemas e de ter mais de 600 mil DVDs vendidos, a produtora resolveu elevar a qualidade dos filmes contratando uma equipe experiente para as filmagens.
O primeiro filme da nova leva foi “Desafiando Gigantes”, lançado em 2006, que mostrava a crise de um treinador de futebol americano cristão (novamente Alex Kendrick no papel principal) que passava certos apertos com seu time colegial. O filme acabou sendo um sucesso, arrecadando mais de 10 milhões de dólares nos cinemas e tendo cerca de 2,2 milhões de cópias vendidas. No mesmo ano o cantor Michael W. Smith lançava seu filme, “A Segunda Chance”, produzido também pela Provident Films, mas que mesmo com o peso do cantor não arrecadou mais do que U$ 450 mil nos cinemas.
Em 2008 a Sherwood voltava com mais um grande sucesso: “Prova de Fogo”. Dessa vez o elenco contava com Kirk Cameron no papel de um bombeiro, à beira do divórcio, que tem contato com um livro de devocionais chamado “The Love Dare” (um livro devocional real escrito por Kendrick e seu irmão Stephen). Cameron, que também foi protagonista nas adaptações da série de livros “Deixados para Trás” nos cinemas, acrescentava a experiência que faltava à produtora. O filme teve um orçamento de 500 mil dólares, mas arrecadou mais de 33 milhões nos cinemas, superando até grandes produções hollywoodianas na época. Pouco depois a produtora lançaria “Corajosos” (arrecadando cerca de 35 milhões de dólares) e “October Baby” (esse último, sem lançamento no Brasil).
A mais recente investida chega aos cinemas brasileiros agora em setembro. Seguindo essa mesma linha, de produções mais elaboradas, e ainda contando com um elenco de peso para os padrões dos filmes cristãos, “Deus Não Está Morto” já fez história ao arrecadar mundialmente mais de 60 milhões de dólares. No elenco estão atores como Kevin Sorbo e Dean Cain, que interpretaram Hércules e Superman, respectivamente, em seriados de sucesso nos anos 1990. O filme também conta com os músicos da banda Newsboys, que inclusive é responsável pela música tema do longa, “God’s Not Dead”. Retratando a dificuldade que nós jovens temos de professar nossa fé em meio às muitas filosofias da vida universitária, “Deus Não Está Morto” é uma das melhores produções recentes em termos de filmes cristãos e não é à toa que chega tão badalado às salas brasileiras.
Vale citar aqui outras ótimas trilhas sonoras dessas produções que têm nomes de peso na música cristã americana. Third Day, Leeland e Casting Crowns são algumas das bandas presentes com músicas que sempre têm tudo a ver com o filme (mais um ponto para os produtores) e não meramente um fundo musical. Outros nomes presentes são os cantores Mac Powell (vocalista do Third Day), John Waller, Waren Barfield, Bebo Norman, a banda Grey Holiday, a até o próprio pastor Alex Kendrick que faz vezes de cantor também.
A boa fase de temas cristãos no cinema movimentou até Hollywood. Recentemente tivemos o lançamento do filme “Noé”, com Russel Crown no papel principal, e em dezembro poderemos ver “Êxodo”, com Christian Bale no papel de Moisés. Além dos filmes bíblicos, uma nova adaptação do best-seller “Deixados Para Trás” deve pintar nos cinemas ainda esse ano, com Nicolas Cage como protagonista.
Com muito desse sucesso tendo como base suas histórias profundamente ligadas ao cotidiano do cristão muito mais do que a histórias de conversão ou com o fim dos dias (temas que eram comuns nos filmes daqueles tempos que eu era criança), essa nova safra de filmes cristãos tem feito bem mais do que faturar bem nos cinemas. Eles têm mostrado que é possível ter produtos de qualidade no mercado cristão e produções que vão além da música, dos livros e dos shows de TV milionários. Produtos com conteúdo, já que boa parte desses filmes tem uma forma própria de abordar a fé cristã colocando a prática do cristianismo em primeiro lugar.