Fé na Música #001 | Ele é: conhecendo Deus em 12 canções

Por Fabíola Soares

Quem nunca se perguntou o que é, por que está aqui, para onde vai, o que fazer com sua vida? Indagações como essas são comuns ao longo da História e inquietam porque tocam pontos sensíveis e estruturais da vida humana, que nem sempre se deseja acessar, tendo em vista o potencial revelador, confrontador, transformador que possuem.

O mundo atual, pós-moderno, vive crises que exigem respostas coerentes, no entanto o que se tem achado são muitas vozes, muitos nomes e muitos caminhos. Todo caminho dá na venda mesmo? Se assim fosse, nos diversos pressupostos e discursos não haveria contradição. Mas há.

Diferente disso, a verdade descrita na Bíblia estabelece um chão firme, com ponto de partida e de chegada conectados por hábeis mãos de um tecelão que enxerga integralmente toda vida, toda História, toda Ciência, toda Arte, todo o Tempo.

Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22:29).

Esse versículo é interessante porque mostra que o erro é fruto da falta de conhecimento. Nos dias de hoje, quanto tempo é gasto meditando nas boas novas do Evangelho, estudando-o, saboreando-o? Quantas horas são gastas fazendo qualquer outra coisa? Não é de se espantar a quantidade de pessoas exaustas emocional e fisicamente, com dilemas profundos buscando respostas frágeis.

Cristo também disse que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12:34b). Então, vamos parafrasear o texto sem perder o sentido: a boca canta do que está cheio o coração. O que isso quer dizer? 

Quer dizer que se estamos enchendo o nosso coração de nós mesmos, de nossos desejos, de nossa razão soberba, de outras pessoas, de medos, de ira, de propósitos meramente terrenos, individualistas e de consumo, nós iremos cantar a linguagem de eu e do você, a linguagem do efêmero e do engano.

Mas quer dizer, também, que se vivemos uma teologia saudável, focada nEle e não em nós, cantaremos em louvor dEle.

As músicas não serão apenas acordes e poemas. Elas mostrarão verdades bíblicas, revelarão quem Deus é e como age no universo, na Sua Igreja e na nossa história individual. Elas vão nos provocar, vão nos inquietar, vão nos tirar do comodismo, da recorrência no erro, vão nos fazer refletir e proclamar. Elas serão a Verdade cantada.

Inevitavelmente, ou seguimos por um caminho ou seguimos pelo outro.

Pensando sobre essas questões, separamos 12 faixas nacionais baseadas na verdade de que Ele é e, em consequência disso, somos, vivemos, construímos, descansamos. Se liga no que, minimamente, conseguimos extrair dessas canções, verificando à luz das Escrituras!


#01 | Ele é

Começamos com a faixa da Morada, que traz uma breve lista do que Deus é de Gênesis a Apocalipse em poucos minutos. É ouvir e lembrar de Paulo nas suas cartas regadas de doxologia, ou seja, de palavras de reconhecimento, glorificação e adoração ao Senhor. “Porque por dEle, e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas! A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11:36). Impossível não escutar e não sentir o coração e a mente explodirem em louvor!

#02 | Ele é infinito

 

A Banda da Vila chega dizendo que Ele é “o infinito ao alcance de nossas mãos”. Isto é o ponto de partida do pensamento cristão. Gênesis nos mostra que Deus supera (transcende) infinitamente qualquer outro objeto da criação e que a nossa capacidade de compreendê-Lo é limitada. Ainda assim, Ele está presente e ativo em tudo o que criou, revelando-se e relacionando-se com os homens. Isso é fantástico! Ele não criou tudo e abandonou à própria sorte. Ele continua agindo. (Sl 90:2; 1Rs 8:27; Is 40:12-26; 66.1; 42:9; 2Pe 3:8; 2Co 5:17; Ap 2:5; Tg 1:16-18)

#03 Ele é independente e auto-existente

 

Quer ver uma #TortaDeClimão na Filosofia? Já se perguntou por que existe algo no lugar do nada? A Bíblia responde! Porque Deus foi quem estabeleceu todas as coisas. E não um deus qualquer. Mas sim o Deus que é eterno, que não precisa de nada para lhe completar (isto é, totalmente satisfeito em Si mesmo), que não precisou de nada para existir (ou seja, de natureza independente de sua criação) e que não é governado ou determinado por nenhuma das coisas que criou. Isso é o que Gn 1:1, Êx 3:14; Is 40:13; At 17:20-25; Rm 11:36 nos dizem e Tarik Mohallem reafirma ao cantar o trecho de Cl 1:13-22. Quanta segurança e espanto isso nos causa! Nosso louvor não é a um deus frágil e mutável em função de circunstâncias.

#04 | Ele é o criador

 

Com doçura, Joyce Carnassale nos convida a meditar no Deus Triuno como criador de tudo e autor da fé, distinto em essência de nós, livre do tempo e espaço. Essa visão de Deus nos mostra o porquê de existirmos. Não somos produto do acaso como diz o ateísmo (onde não existe deus) nem somos uma parte da divindade como prega o panteísmo (onde tudo é deus). Somos criação especial do Senhor, diferente de todo o resto das criaturas, para Seu louvor (Gn 1; Sl 104:24; 33:6,9; Jo 1:1-3; At 17:25-28). E isso é massa!

#05 | Ele é relacional

 

Sabe aquelas músicas para ouvir mil vezes? Eli Soares canta uma delas “pra quem anda sozinho e não conhece a verdade”. Às vezes, a gente até conhece, mas esquece, né?! Ele é o Deus que, com prazer, batia papo na viração do dia com Adão e Eva e que está conosco todos os dias até consumação dos séculos (Gn 2, 3; Jo 17:3; Jr 9:23-24a; Mt 28:20). J.I. Packer diz que “conhecer a Deus é um relacionamento capaz de fazer vibrar o coração humano” (1996). Então, se Cristo é o adeus definitivo à solidão, por que a gente desperdiça esse privilégio?

#06 | Ele é pessoal

 

“Ele é quem entende e me faz entender sobre a vida e o que é viver”, Talita Barreto introduz. Fomos feitos à imagem dEle para desfrutarmos de relacionamento com Ele e, a partir da perspectiva dEle, entendermos quem somos. Ele se fez carne, sentiu e habitou entre nós (Gn 1:26-27; Tg 3:9; Jo 1:1-14; Is 53; Rm 6:4). Ele morreu por nós. Não precisamos partir de circunstâncias da vida, cor, idade, desejos, padrões sociais e filosóficos para nos definir ou ter alegria. Essa verdade traz paz. Pensemos nisso!

#07 | Ele é racional

 

Em tempos onde a razão e a fé são ferozmente colocadas como opostas, a Bíblia mostra que Deus é onisciente, criou um universo com lógica e ordem (Sl 139; Jo 21:17; Cl 2:3; 1Jo 3:20; Ap 20:12). Raciocinamos e fazemos ciência por causa dEle. Perceber que Deus compartilha conosco atributos (características) que são Seus, realmente, aquece nosso coração. Oremos para que, como disse O Muro de Pedra, no nosso “mar de interrogação” o Senhor venha e não nos deixe esfriar em função de uma razão vazia e de uma lógica barata.

#08 | Ele é santo

 

“Santo, santo, santo. Só Ele é. Seu nome é santo”. O refrão chiclete do Duo Franco e DJ Flexa parafraseia o coro dos anjos em Is 6:2-3 e dos seres viventes em Ap 4:8. Já em Lv 11:44, o próprio Deus se descreve como santo. Santidade, então, significa Sua grandeza transcendente, Sua perfeição moral, Sua ética impecável, Sua pureza e Seu caráter divino. Porque Ele é santo, somos convocados a viver a vida em temor reverente e conduta que reflita a Sua, ainda que a sociedade negocie ou descarte esses valores. Fácil não é, mas é urgente!

#09 | Ele é justo

 

Quem somos no oculto? O que escondemos do mundo no nosso coração? Em tom sereno e quebrantado, Os Arrais trazem perguntas desconfortáveis que nos levam a reflexões profundas. Há tanto que temos vergonha ou medo de expor. Há tanto que mostramos, mas que não vivemos. Se Deus é perfeito e santo, como Ele se relaciona com o sujo do nosso eu? “O que Cristo oferece, Ele é”. Por Sua santidade e em Sua justiça, o preço do pecado precisava ser pago (Jr 44:4; Hc1:1-3; Sl 5:4-6; Rm 1:18, 2:5-9). O protagonismo aqui é do próprio Deus que se sacrificou para quitar a dívida (Rm 3:25, 8:3; Mt 27:37; Lc 22:37; Jo 10:14-15). O mérito não é humano. É totalmente divino. Não é pelo que fazemos. É porque Ele é e fez. Nisso, o Senhor demonstrou que era o Justo (que julga o erro com justiça) e o Justificador (quem cumpre a pena). Essa maravilhosa graça é o foco da fé. Como é libertador não precisar viver em busca de instituir justiça própria!

#10 | Ele é soberano, onipresente e onipotente

 

Ele é o braço forte, Ele é o meu suporte, o meu conselheiro, não dependo da sorte. Então, percebo que nada que eu faça teria algum valor senão fosse a Tua Graça“. Isso soa tão inusitado ou retrógrado se comparado aos discursos atuais. A faixa do Gospel Trap Music relembra que Deus exerce domínio sobre todas as coisas: grandes e pequenas, passado, presente e futuro (Êx 15:18; Sl 47, 93, 146; Pv 16:33, Is 24:23, 52:7; Mt 10:29-30). Ele está em todo lugar e pode fazer todas as coisas segundo Sua sabedoria, bondade e santidade (Sl 139, 18:1-2, 46:1; Jr 23:23-24; At 17:24-28; Jo 42:2). Ouvir isso é incrivelmente reconfortante, pois não é “o acaso que vai nos proteger quando andarmos distraídos“.

#11 | Ele é bondoso e glorioso

 

Yan Stark não precisou usar as palavras bondade e glória para que seja possível perceber esses atributos de Deus na sua música. Ela descreve a benignidade do Senhor por meio do sustento físico, emocional e espiritual, bem como  na salvação da cruz. Isso está em sintonia com o registro bíblico (Mt 3:17, 17:5; Jo 3:35, 4:8-10, 14-31; 16:13-14; 17:15, 22:26; Sl 100:5; 145:9; Rm 9:22; 2Pe 3:9; Ef 2:1-1). Em reconhecimento, ele reforça o privilégio de se alegrar e exaltar ao Senhor. É a Glória que Ele tem e que, no Antigo Testamento, era sinônimo do valor, dignidade, esplendor quando havia a presença ativa de Deus e, no Novo Testamento, do caráter, propósito e poder da pessoa e papel de Cristo (Ez 1:28; Êx 33:22; 34:5; Jo 1:14-18; 2Co 4:3-6; Hb 1:1-3).

#12 | Ele é três em um

 

E para fechar, a pegada de um canto comunitário que nos faz lembrar da Trindade. Na música, Jeize Alexandre aborda o Deus que, em glória, se revelou a nós e cita a referência de Cristo, o unigênito de Deus. Que complexo é entender isso! Um Deus único em essência, mas que existe em três pessoas: Pai, Filho, Espírito Santo (Dt 6:4-5; Is 44:6-45:25; Mc 12:29-30; 1Co 8:4; Ef 4:6, 1:3-14; 1Tm 2:5; Rm 8; 2Ts 2:13, 14; 1Pe 1:2; Jo 14:16-17, 15:26-27; At 5:3-4). Para quem gosta de matemática, não é como uma soma (1+1+1=3) e sim uma potência (1x1x1=1). Deus como Trindade traz a unidade e a diversidade em si. Deus como Trindade traz submissão e organização em si (o Pai ama e envia, o Filho é enviado e morto, o Espírito é enviado e faz a salvação ser real e prática na vida dos salvos).


Pois bem, cantar sobre o Senhor não significa que sabemos quem Ele é. Adjetivos e substantivos em si mesmos não glorificam a Deus. Quando abrirmos nossa boca, precisamos entender o que Ele está dizendo de Si mesmo e como isso transforma a nossa vida e nos faz  enxergar tudo.

É isso aí, somente a partir da visão de quem Ele é, conseguimos discernir  TODAS as demais coisas, inclusive nós mesmos. 

Conhecê-Lo é ser livre nEle e não escravo de si mesmo. É não ser limitado pelo domínio de um eu caído como diz certa canção: “deus me fez assim: dona de mim“.

Por isso, não é um jeito de cantar ou o nome do artista “X” que diz se uma música é bíblica ou não, se ela presta culto a Deus ou não. A pergunta é: essa canção reflete as Escrituras? Portanto, estudar sobre Deus (teologia), meditando em Sua Palavra e orando, é muito importante tanto no ato de fazer quanto de experimentar a música. #FicaAdica

Na organização dessa lista, por exemplo, encontramos a música “Ele é” de Aline Barros, que possui a seguinte frase no refrão: “Ele é a voz no deserto, ouça”. Quem é a voz do deserto segundo Is 40:3, Mc 1:3, Jo 1:23, Lc 3:4? É João Batista, o qual estava anunciando o Salvador que viria. A voz no deserto aponta para Ele, mas não é Ele. Deu pra entender?

Reforçamos que nosso objetivo não é dizer que esse ou aquele cantor tem música boa. Mas, sim, provocar nossa mente a pensar biblicamente aquilo que ouvimos e cantamos. Para que possamos orar como Tomás de Aquino (1225-1274): “Dá-me, Senhor, sensatez para te conhecer, sabedoria para te achar. Faze com que minha vida inteira seja do teu agrado“.

Aumente o volume e medite!