Diferente de outros reviews, não falarei faixa a faixa, nem do disco em si. Particularmente estou mais interessado no que Calmará é em si do que no que a banda produziu. Isso não desmerece o disco recém-lançado, longe disso. Na verdade, pelo contrário. O álbum de estreia é simplesmente histórico. Mas é sobre a banda que quero comentar.
Tentar ter uma ideia formada sobre a Calmará, pra mim, é um exercício em vão. Pode soar precipitado, afinal, a banda ainda está em seus primeiros passos. Mas ela não é. Ela está sendo e provavelmente assim será. É movimento, algo que vai se fazendo enquanto se anda e, nessa caminhada, põe e tira muita coisa da sua bagagem.
Pra não dizer que não falei do disco, quanto mais se ouve, mais se descobre. Música clássica, baião, forró, rock, samba… Referências artísticas em todos os minutos (descobrí-las faz do disco uma diversão à parte). Em cada faixa, um pouco da criativa e multiforme graça em versão de música. E isso não é pra qualquer um. Ainda mais pra um grupo de integrantes tão jovens. É nessa jovialidade que minha atenção pousou.
Calmará é um reflexo da nova juventude cristã. Daquela que cresceu moldada pelos templos e foi desconstruída pela fé na vida. Que rompeu com a tensão com o “secular”, que se libertou das algemas do gospel, fazendo as pazes com a cultura sem levar consigo a culpa. Tudo isso mesmos que os pés cambaleiem, os olhos continuam fixos na direção daquele que os guiam. É uma geração aberta e desejosa pelo diálogo. Disposta a compartilhar seus valores através do diálogo, que quer ver a transformação, transformando-se.
Longe dos clichês e com uma fé de gente nova, mas bem madura, a banda renova a esperança na relevância e criatividade e se junta a outras iniciativas pontuais ou agrupadas que tem surgido (como os artistas do próprio Candiero). De todas as excelentes faixas, fica o convite para redobrar a atenção na letra de Mãe; Mainha. Nela é condensada, pra mim, tudo o dito até aqui, ainda mais no trecho:
Ele arrancou de mim
O meu melhor sorrir
É meu filho, meu Deus
É, é nosso Pai, é fim
É fim do estar sozin
Do meu quintal saiu
A redenção pro mundo inteiro todinho
Calmará é como cantou Palavrantiga, uma juventude na qual apontaram as cercas e os muros, mas preferiu o caminho, rogando pela vida e subvertendo o mundo.