Esse ano não consegui participar da aclamada lista de melhores discos do Apenas Música, mas de tanto ouvir o último disco do Bring Me The Horizon em 2020, me senti na incumbência de falar sobre ele.
Post Human: Survival Horror saiu em outubro de 2020 mas não chegou a chamar minha atenção de início, até que vi sem querer um clipe traduzido de Kingslayer, música da banda com o trio japonês Babymetal.
Logo mandei a música para alguns amigos que gostam da banda e alguns dias depois de discutir com eles, foi atrás de ouvir o CD. Pronto, estava definido ali o meu disco preferido desse ano. Foi uma grata surpresa ver como a banda voltou ao metal que os fez tão conhecidos na década passada, mas de uma forma muito mais madura e criativa, utilizando música digital e outros elementos mais flexíveis do que um simples deathcore barulhento.
Mas a ideia aqui não é fazer resenha do CD, apesar da vontade ser grande. Escutar o disco enquanto escrever me faz ter vontade de ir descrevendo porque ele é tão bom. Mas se existe algo melhor do que observar os nuances rítmicos isto é análise da obra como um todo. Querendo ou não, todo disco é uma arte, um veículo que emite uma mensagem, valores e opiniões.
Ao mesmo tempo em que eu batia cabeça sozinho ouvindo Dear Diary, primeira música do CD, a letra me chamou a atenção. Ela descreve, a cada ato, um estilo de vida durante uma pandemia. Curioso, né? A música mostra um mundo degringolando, sem esperança e cheio de tédio, solidão e horror.
O mesmo cenário vai se desenhando nas faixas posteriores, como na faixa Teardrops, com versos como
Is how we got this stressed out, paranoid
Everything is going dark
Nothing makes me sadder than my head
Essa temática sombria e triste não é algo novo nas letras da banda, mas é interessante observar as motivações por trás delas, ou o que elas tentam passar como mensagem. Outra banda inglesa que eu gosto e que tem uma mensagem ‘anticristã’ muito clara é o Architects.
Pouca fé (?)
Quando eu olho para músicas como essas, entendo que elas são expoentes do pensamento de uma geração. Afinal, bandas como BMTH estão angariando cada vez mais fãs, encabeçando festivais até mesmo na América do Sul, algo impensado durante seus primórdios.
Não acredito que será em um post em blog que vou conseguir achar respostas para os questionamentos dessa obra, mas acredito que pode ser uma forma de começarmos a pensar e questionar sobre o que podemos fazer.
Quando eu escuto uma letra que mostra desesperança, por mais que eu queira bater cabeça, fico imaginando como o cristianismo não alcançou essas pessoas. Não digo isso no sentido de que todo o mundo deva ser catequizado, até porque acredito muito que as pessoas devam ter suas liberdades asseguradas.
Mas parto do princípio de que, se estamos levando uma mensagem de esperança e conforto e as pessoas não veem isso, existe algo errado nessa transmissão.
Metalcore: da lama ao caos
Durante as últimas duas décadas vimos a ascensão e queda de uma cena cristã extremamente forte dentro da música pesada. Os maiores festivais eram dominados por bandas que falavam da sua fé, citavam trechos bíblicos e às vezes até arrumavam problemas com as bandas não-cristãs.
Porém nos últimos anos vimos muitas dessas bandas reescrevendo suas bases, explicando que o cristianismo era na verdade algo do seu passado, de quando ainda não conheciam o mundo de uma forma plena e profunda. Na minha opinião muito disso decorre de uma visão deturpada do mundo que uma fatia do cristianismo tem.
Sempre que vemos a explicação da galera que abriu mão de sua fé, temos exemplos de decepção relacionada à Deus deixar o mal acontecer, ao dinheiro que rola na indústria gospel, o que geralmente nos faz questionar sobre onde esses caras estavam durante as aulas de escola dominical.
Mas esse tipo de crítica soa vazia e anticristã, porque terceiriza o significado do evangelho, que é o aprendizado constante e compartilhado com outras pessoas. Se temos indivíduos que não estão conseguindo enxergar Cristo na Igreja e no meio das pessoas que se dizem cristãs, estão havendo falhas dentro desses grupos, não nas pessoas que decidem se retirar.
Questionamentos
Acho que todo mundo já passou por uma situação de questionar sua fé e crença. Acredito que isso seja natural e até esperado durante a caminhada cristã. Nessas horas o que será o fiel da balança serão nossas bases, o que a gente conseguiu abstrair e entender do Evangelho.
Quando vejo alguém se revoltando e saindo da igreja ou cantando músicas onde Deus é um vilão eu entendo que existe uma necessidade de que eu como cristão consiga levar uma mensagem de paz para quem está perto de mim.
A gente vai, sim, viver com questões que podem ser interpretadas como hipocrisia em nosso meio, como mega-igrejas acumulando milhões e apoiando discursos criminosos. E é nesse contexto que precisamos nos posicionar e mostrar como o Evangelho engloba esses assuntos.
Não é uma tarefa simples, principalmente vivendo em um mundo onde tudo é polarizado como tem sido nos últimos anos. Mas o mundo contemporâneo urge que o cristianismo consiga ser um ponto de paz, uma luz durante pandemias, crises financeiras e em momentos quando a esperança das pessoas parece se esvair. Foi para isso que Jesus veio e é pra isso que estamos aqui.