Antigamente eu tinha o costume de ir até a loja de CDs e comprar alguma novidade ou apenas completar o que faltava em meu acervo. Refletindo agora, como isso é estranho hoje em dia. Já que vivemos na era streaming. Por essa razão, considero o tempo cruel. Odeio sentir essa sensação de velhice. Para ser franco, só de lembrar que eu tinha esse costume me causa arrepios. Ao mesmo tempo acho engraçado, pois naquela época isso era ‘coisa’ de privilegiado. Poucos podiam gastar com arte ou ter acesso a esse tipo de conteúdo. Entretanto, não é sobre isso que eu quero comentar. Mas, não vi outra forma de começar a escrever sem lembrar do meu antigo e esquecido hábito porque foi desse jeito que o disco de estreia do Building 429 chegou em minhas mãos. Era de tarde. Ainda estava de uniforme escolar quando dei o play no meu antigo Discman e ouvi “Glory Defined” imediatamente senti algo diferente e poderoso em meus ouvidos.
Após me expor desse jeito, vou explicar um pouco sobre eles. Building 429 é uma banda formanda quase no fim de 1999, na cidade de Fayetteville na Carolina do Norte, Estados Unidos e são pertencentes à igreja Batista. O nome da banda faz referência à passagem de Efésios 4:29 que diz assim: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graças aos que a ouvem”.
Segundo Jason Roy, vocalista da banda, a ideia do nome surgiu no grupo de jovens da igreja. Nessa época, eles tinham um código chamado “Desafio 429” baseado nesse versículo. E sempre que alguém falava algo negativo de uma pessoa era automaticamente avisada e convidada a experimentar a usar o código “429” para falar algo bom e agradável a quem foi ofendido. Baseada nessa vivência a banda adicionou a palavra “Building” que em inglês significa edifício, mas que também pode ser compreendida como construção. Ou seja, eles estão sempre em construção ou crescimento para praticar esse versículo
No começo de 2000 a banda fez em torno de 100 shows e alguns álbuns gravados de forma independente que chegou a marca de 3 mil cópias vendidas. E foi dessa forma que a rapaziada chegou até a Word Entertainment, um selo subsidiário da Warner/Curb Company em 2004. Posso dizer que “Space in Between Us” é um excelente disco de estreia. A faixa single “Glory Defined” ganhou destaque tornando-se número 1 em várias rádios americanas. Por conta disso, recebeu em 2005 várias indicações ao Dove Award, o maior evento de música cristã americana. Além disso, levaram para casa o troféu de “Artista do Ano” pela Gospel Music Association.
Após esse impacto no começo da carreira, outros álbuns foram lançados em parceria da Word Entertainment como “Rise” de 2006 e “Iris to Iris” em 2007. Mas, como tudo tem o seu fim, eles resolveram sair para assinar com a INO Records, selo subsidiário da Sony Music. Por lá eles lançaram o sexto álbum de título homônimo. Apesar da mesma pegada, o álbum não teve tanta atenção como os outros. Porém, duas músicas foram trabalhadas pela banda como “End Of Me” e “Always”.
Em 2011, Building 429 assina com o selo Provident Label Group também pertencente ao grupo Sony Music para lançar o bem sucedido álbum “Listen to the Sound” e exibem um disco diferente do que já vinham fazendo. Eu diria que as músicas desse álbum é bem a cara da década de 2010. A faixa título “Listen to the Sound” passou semanas entre as mais tocadas nas rádios cristãs e recebeu disco de ouro pelas vendas digitais no Itunes. Mas foi “Where I Belong” que pegou toda atenção ganhando super produção em videoclipe. Sendo assim, a banda conquistou uma nova turma de fãs.
Por causa dessa mudança eu comecei a ficar um pouco longe deles. Aí percebo como esse lance de sucesso é relativo. Posso dizer que no “auge dos caras” eu já sentia que o Building 429 não era a mesma coisa. A começar pela intensa saída de membros e a musicalidade cada vez mais pop. Quando eles lançaram “We Won’t Be Shaken” pela Essential Records, outro selo da Sony em 2013, confesso, não tenho memória afetiva como nos três primeiros trabalhos. É como se o álbum nunca tivesse existido para mim. Mas, foi com essa obra que a banda foi indicada ao Grammy Awards na categoria Melhor Música contemporânea cristã.
Em 2015, era lançado “Unashamed” pela Reunion Records ainda sob os cuidados da Sony Music. Talvez, esse seja o trabalho mais apagado do Building 429. É tão chato que eu nem consigo ouvir. Até a capa eu acho preguiçosa. Mesmo assim, devido ao sucesso do disco anterior, eles pegaram a segunda posição na lista cristã da Billboard e várias críticas positivas de revistas especializadas em música.
Só voltei a sentir uma leve simpatia pela banda em “Live The Journey” lançado em 2018. Esse disco marca o rompimento com a Sony Music após tantos selos. Essa obra ganhou vida nas mãos da 3rd Wave Music. Em entrevistas que foram feitas nessa época Jason Roy falou que para a banda a inovadora estrutura da nova gravadora iria permitir uma programação flexível de lançamentos com mais frequência para satisfazer os desejos dos fãs. E foi o que aconteceu. Eles lançaram vários singles soltos nas plataformas digitais como ocorre atualmente.
Enfim, vejo que o Building 429 apesar de tudo sempre esteve ativo. Nunca deixou de crescer, experimentar e mudar. Geralmente bandas desse tipo começam, enfraquecem ou acabam fazendo uma pausa. Às vezes, nunca voltam. Building 429 chegou para o mundo grande. É difícil se manter na indústria mesmo após as mudanças e experimentações com inúmeras trocas de selos e gravadoras. Quem segue a banda e curte o som já sacou que não dá para se esperar nada porque eles vão mudar sem medo e desapego. A única coisa que permanece invicto nas canções são as mensagens de fé. Talvez, esse seja o segredo da longevidade que dá tão certo para eles.