Estava penteado meu cabelo após o banho, me preparando pra voltar pra minha cidade. Como meu cabelo está alto, cada vez que passo o pente caem alguns fios. Dessa vez não foi diferente. Quando olhava os pequenos fragmentos na porcelana, imaginava: até que ponto somos fortes?
Pare e pense: conseguimos guardar memórias, aprender a andar e falar graças a elas. Vamos crescendo e acumulando conhecimento e experiências de vida. Passamos por doenças, acidentes e ainda assim continuamos firmes, passando dia após dia pelas adversidades. Mas não somos imbatíveis.
Quando vi aqueles fios caindo, lembrei que não sou uma máquina. Se fosse um robô e estivesse passando por um teste de qualidade, creio que não seria aprovado.
Mas não, ter cabelo caindo após uma leve penteada é normal, aceitável. É o tipo de fraqueza que aceitamos por conhecer nossa existência e sua pequenez.
Isso não tem a ver apenas com nossa condição física, mas também com os valores que carregamos conosco. Quando era mais novo, fazia parte de um gueto gospel que tinha um código de conduta bem restritivo. Naquela época, qualquer atitude considerada fora dos padrões de ética seria considerado pecado e um pé numa futura vida errônea.
Graças a Deus amadureci e percebi que algumas coisas que aprendemos são mais preciosismo do que ordenança. Essas memórias foram rememoradas hoje, ao ler sobre o The Devil Wears Prada na internet.
Em um fórum, um fã perguntava se eles haviam parado de pregar nos seus shows. Entre os relatos de pessoas que os haviam visto em diferentes cidades dos EUA, a maioria dizia que perceberam uma “descristianização” dos integrantes, que não só pararam de pregar como agora xingam o presidente antes de cada apresentação.
Pra um cristão de carteirinha, a primeira posição a ser esperada em uma situação dessas é criticar. Mas a única coisa que consigo perceber, hoje, é nossa falibilidade. Falhamos ao tentar corrigir a conduta das pessoas com base em nosso empirismo, assim como falhamos ao tentar batizar pessoas nas ruas, trocando a água por falas. Falhamos ao tornar nossa fé um clube fechado e elitizado.
Hoje quando olho aqueles pedaços de fios na pia lembro de como sou fraco e necessitado. Lembro que com apenas um sopro dEle eu caio pra não voltar mais. Lembro que até o falar sobre Ele não vem de nós. Não somos imbatíveis.