Certa vez, Ailma, editora da casa, me apresentou uma banda chamada Palankin. Achei o nome curioso e fui ouvir. Lembro que ao conferir a música Pulsante eu pensei: opa, tem coisa interessante aí. O frescor da guitarra e o vocal inebriante da Ana Rock me prenderam atenção até o final. Mesmo com um lirismo vamos dizer “pentecostal” da faixa, ela me atraiu por seu tom confessional. A letra me passava uma sinceridade, sem frases feitas, meras repetições do mesmo tema como diria João Alexandre. O sentimento foi o mesmo na maior parte do EP de estreia e no recente single Epifania.
Palankin acredita que a arte é uma forma de Deus se revelar aos Seus filhos de maneira única, e é aí mesmo que eles jogam sementes. O significado do nome da banda Palankin é uma cadeira feita no oriente médio que era utilizada a princípio para carregar os doentes, mas aos poucos tornou-se o transporte de pessoas mais influentes da sociedade, como a realeza, para lugares de seu interesse. Ana Rock e Tiago entendem que o Palankin carrega o Rei onde Ele deseja ir.
A versatilidade vocal da Ana, indo do rock raiz ao folk, é algo admirável. Em entrevista no canal da Fabiola Melo, a vocalista conta que desde cedo sua base foi a música e literatura gringa e, por ter passado uma temporada no exterior, acabou se acostumando com o sotaque (por causa disso o suposto estranhamento aos ouvidos brasileiros). Seja como for, o fato é que sua voz é inusitada e capaz de atrair quem procura algo diferente. No entanto, mesmo notando que a banda está num hype no público “gospel”, prefiro ver o trabalho da Palankin como um ponto fora da curva. Não me recordo no momento de conhecer algo tão singular e autoral como o trabalho deles.
Nosso objetivo não é vender ou ter fama sem propósito. Nossa missão é pregar o Evangelho de Cristo e libertar os cativos de suas prisões espirituais. Muitas pessoas talvez se sintam desconfortáveis com nossa musicalidade e letras. Mas não estamos aqui para sermos aceitos, porque já fomos por Cristo. Estamos aqui para soar um alarme e pregar contra todo tipo de maldade humana e sobre esperança num mundo caótico – Ana Rock, para o Guiame.com.br
A dupla demonstra que o som não se limita à lógica comercial, pois dificilmente terá adesão de igrejas mais tradicionais. O canto não se restringe a sua forma, há muita interpretação. Palankin é performático. O sentimento transcende no timbre da voz, no choro espontâneo do vídeo, na alma que canta a oração, o desespero e a sinceridade. Isso é nítido em canções como Bonecos de Plástico.
Mas me esforçando não consigo Te amar mais! Na minha força eu me canso e nada satisfaz!
Então largo tudo. No silêncio. No escuro. E Te contemplo!
E entendo o porquê estou aqui!
Entendi porquê eu nasci!
Pra ser amada por Você,
Pra ser uma com Você!
O casal brasileiro me lembra outro casal, o norte-americano Gungor. Assim como eles, a Ana e o Tiago investem em um som inventivo, que mostra a bagagem cultural e musical deles em cada faixa; que experimenta pegadas sem se limitar a padrões. Isso está muito presente em Epifania. Com um pezinho em Janis Joplin (pronto, Ailma), a faixa traz uma mensagem visceral carregada de energia e devoção.
Meu Jesus eu Te considero tudo, então conto tudo como perda…
Ele vale mais que ouro, mais que meu conforto!
Ele é mais que uma sensação, muito mais que uma reunião!
Ele não se encaixa na caixa que a mídia impõe. Ele é muito mais!
Enfim, para mim, Palankin pode ser considerado como um fôlego criativo em nosso meio. É a aposta de um som com personalidade, profundidade e relevância. Vamos ficar de olho nesse casal, pois certamente teremos ótimas surpresas.