Sua estreia chega para mostrar a bagagem que carrega nas costas, firmando a qualidade dos alicerces nos quais ele erguerá sua própria identidade musical.
Bastam os segundos iniciais de Ontem/Amanhã para garantir que você está diante de uma experiência musical diferenciada. Com bastante sutileza, cada faixa de Alma Nua convida a se despir do tempo, de si e dos vícios musicais.
Conheci o trabalho do Northon pelo visionário Coletivo Candiero e já é infinita minha gratidão por dar visibilidade a um trabalho tão encantador. Vindo das quentes terras de Teresina, ele não é ponto fora da curva, ele é a curva em si. Sua metamorfose sonora e versatilidade de canto faz com que o ouvinte transite por muitos sentimentos literalmente com alma nua, exposta à vida.
Como dito, a faixa de abertura flui como água, lembrando bem Rico Ayade em Atravesso (2017) e Uma Temporada Fora de Mim (2015), do Helio Flandres. Seu início suave explode com intensa mensagem de esperança, deixando uma sensação de paz no coração.
A breve Benjamin faz transição para Paz e Segue e sua notória referência ao O Terno. Vintage e misteriosa, a versatilidade vocal do Northon é envolvente. Seu samba retrô pede para ser favoritada nas melhores playlists.
Numa poética bem Marcos Almeida, Despido assume o tom confessional prezando pela simplicidade que faz a atenção se voltar para a mensagem ali transmitida. Em Maltrapilho, o tom reflexivo continua, contudo, com um tom dramático sobre a nossa pobreza de ser. Aqui, para aqueles que procuravam uma menção mais explícita à fé cristã, encontra “eu quero viver o Teu amor, juntando tudo que eu sou, sobrou um pobre pecador”.
Mais uma transição, a voz grave de Northon faz latejar a veia MPB com Passe Longe. Já Carismatos é uma faixa que poderia estar, sem dúvida, no mais recente disco de O Terno. Trazendo uma crítica à religiosidade superficial do meio cristão. Inteligente e ácida, a faixa certamente vai incomodar tradicionais e provocar júbilo nos que protestam.
Comungraça também faz ponte para Passará. Simples e bela, voz e violão embalam a presença da Graça na vida. A penúltima faixa retoma a esperança e abraça o olhar positivo mesmo diante da dureza de nossos dias. E, nesse sentimento, Northon encerra seu disco deixando um último recado em Carta: “Nada impedirá o Grande Amor”.
Em apenas 27min, Northon Pinheiro mostra que a música cristã pode ser inteligente, criativa e nordestina. Sua estreia chega para mostrar a bagagem que carrega nas costas, firmando a qualidade dos alicerces nos quais ele erguerá sua própria identidade musical.
Avante, Northon! Seu trabalho merece ser compartilhado à exaustão para destruir esteriótipos e soprar esperança aos ouvidos de quem clamava por uma música cristã de relevância.