Sobre perdão, barulho e recomeços

Uma das facetas mais interessantes da música é a forma como ela conecta pessoas. O Apenas Música é um bom exemplo disso. Geralmente nos ligamos a pessoas devido a gostos e estilos em comum. Mas o texto de hoje vai te aproximar de maneira diferente.Pode ser que você não goste da banda que irei citar ou do estilo. Mas acredito que as ideias que farão parte deste texto poderão fazer você refletir um pouco sobre aspectos importantes da vida. A banda a que me refiro é o As I Lay Dying, virtuoso grupo americano de metalcore.

A banda foi fundada em 2000, tendo chegado ao topo da Billboard 200, além de serem indicados a inúmeros prêmios, como o Grammy. Um feito incrível para uma banda cristã e de um estilo controverso. Mesmo entre os fãs de rock pesado, o metalcore sempre teve uma aura de som de adolescente, tendo um nicho bem específico de fãs.

Tudo ia bem para a banda, lançando sempre discos com bastante aceitação na cena e acumulando prêmios. Até que em maio de 2013 o vocalista foi preso, acusado de tramar a morte da ex-esposa. A notícia caiu como uma bomba no mundo da música, sendo noticiada por grandes veículos, como The Guardian e Rolling Stones.

Pior ainda, o vocalista alegou que não era cristão e que só fazia parte de uma banda dita como cristã porque isso dava dinheiro. Lembro bem de como vi pessoas decepcionadas nessa época, já que a banda era um dos maiores expoentes do cristianismo na cena musical em que participavam.

Dando um pulo no tempo, em junho de 2018 apareceu um vídeo da banda reunida novamente, no primeiro clipe após os 6 anos de hiato. O cantor, que havia saído há pouco tempo da prisão, falou sobre seu arrependimento e levou isso para a música também. Existem outros detalhes dessa história, mas queria focar nesse retorno deles.

Vendo o vídeo, a primeira coisa que senti foi nostalgia e alegria por ver uma banda que gosto reunida novamente. Estamos sempre vendo bandas voltando a tocar após alguns anos, então ter isso com eles acabou sendo algo de encher o coração.

Lembro que, quando mais novo, meu pai fazia um programa de rádio na região. No trajeto, eu ficava no banco de trás do carro, olhando para as paisagens e ouvindo An Ocean Between Us de ponta a ponta. Era ótimo! Essa semana, mesmo com as revelações passadas de Tim, eu estava ali não pelo caráter dele, mas pelo seu trabalho como músico.

Em segundo lugar, o que chamou minha atenção foi eles voltarem após tudo o que aconteceu. É claro, não sabemos se houve um arrependimento genuíno e se os membros da banda aceitaram o cantor de volta. Ainda mais quando sabemos que a banda tem uma obrigação contratual de gravar mais um CD.

Acredito que não adianta querer desvendar as interações do coração. Afinal, só Deus nos conhece por dentro. Quantas histórias já não ouvimos de pessoas que esconderam modos de vida sujos durante anos. Por mais que haja uma vontade dentro de nós, não somos quem deve julgar as pessoas, somente Deus.

as i lay dying

Falo isso não porque gosto da banda, mas porque acredito na redenção da pessoas. Cristão ou não, todos estamos passíveis de fazer escolhas erradas na vida, assim como Tim. Mas devemos ter a oportunidade de voltar atrás e poder escrever uma nova página da nossa história.

Como cristãos, devemos olhar para o outro não com o olhar humano, comum e que vê somente as ações, mas precisamos ter uma abertura para aceitar as pessoas. É isso que vai nos diferenciar do mundo.

Espero que, mesmo em meio ao barulho que a banda produz, possamos crescer com histórias assim, permitindo que mais pessoas possam experimentar a paz que excede todo o conhecimento. Amém.