Particularmente acho um tanto raro encontrar vozes femininas nacionais de qualidade. Apesar das mulheres serem muito mais expressivas no meio musical cristão, encontrar alguma que faça algo original é um tanto escasso. Mas conheci 3 que me chamaram atenção nos últimos tempos. Vamos lá:
SARAH
A primeira delas é Sarah. Com um nome artístico curto e um disco homônimo, fica um tanto difícil encontrar algo sobre ela, mas o que se sabe é que a jovem é da Bahia e dona de uma doce voz pra lá de encantadora. Indicada pelo Spotify, fiquei curioso pela beleza e personalidade da capa. Negra de turbante e muito estilo, seu disco começa com a tranquila Meu Coração É Teu que traz uma letra bem intimista e confessional. O swing black toma conta com a dançante Deus Está No Controle com uma mensagem de fé e otimismo. A próxima faixa Louve Ao Senhor, segue um balanço mais moderado e não me atraiu muito a minha atenção, ao contrário do que viria a seguir. Primeiro Amor é, para mim, a melhor faixa do disco. A ouvi várias vezes e que refrão! Uma interpretação cheia de emoção e simplicidade.
Chegando a metade do disco temos Ele Me Ama, uma balada simpática que conta com um toque de back vocal. No teclado e na viola, vem o samba de Graça transbordando brasilidade. Em seguida, voltamos para a calmaria de Espírito Santo que me fez lembrar as canções e a forma de cantar de PC Baruk. Na reta final, Eu Sou de Jesus retoma o swing que envolve o ouvinte no black/soul com uma letra simples e clara. Honra e Glória derruba novamente a velocidade do álbum e vai para um louvor e adoração convencional. De semelhante forma temos Dependente que encerra o disco com violão e um pop rock comum.
Apesar das variáveis sonoras (e minha preferência pelo tom mais brasileiro de algumas faixas), o trabalho da Sarah se destaca dentre as produções atuais. Vale muito a pena ficar de olho nessa talentosa baiana!
DEISE JACINTO
Sim, se eu visse o disco dela em uma loja muito dificilmente eu me sentiria atraído pela capa. Mas como a conheci através da indicação de um amigo, apertei o play para ouvir a Deise Jacinto. Os primeiros segundos de Vou Subindo já atraíram minha simpatia. Um folk singelo, uma voz suave e consistente, letras humanizadas e a leve presença de metais, me fizeram curtir o trabalho dessa moça.
De Santa Catarina, a cantora traz a vida e os sentimentos cantados pela ótica da fé em Cristo. De forma tão acolhedora, Como Deve Ser aborda nossos dilemas e a necessidade de firmar a identidade nEle. A voz e o violão predominam fazendo com que a atenção se volte para o que é cantado. Uma belíssima canção.
No mesmo clima vem Como o Sol trazendo a natureza e as experiências da vida para o canto. O estilo traz certas lembranças dos irmãos Arrais. Com formação em Educação Física e Música, Deise traz a doçura do agir divino transformando nossas vidas através do sacrifício de Jesus em Meu Interior.
Me Leva foi o cartão de visita que eu tive da Deise. O clipe, com uma leve pegada hipster, me encantou por sua simplicidade de produção e, claro, a beleza da canção. Confiram aí:
Inventor do Tempo também traz sua graça falando da soberania divina e seu relacionamento conosco por meio de uma poesia ímpar. O clipe é bem criativo.
Rumores injeta um pouco mais de alegria no ritmo. Já Final Feliz, faixa-título, devolve novamente reflexão ao disco dando ênfase na realidade humana e sua relação com o divino. Próximo ao fim do disco temos Lucas 15, dizendo como somos estrangeiros nessa terra e É o Que Descobri, mais uma vez, falando das coisas vividas. Desacostumar encerra de forma brilhante com o sanfona e a esperança na volta de Cristo.
Com foco na vida e na fé e poucas variações sonoras, Deise Jacinto mostra uma personalidade musical que pode não agradar alguns por uma certa monotonia, mas agradar bastante amantes de um bom folk.
MARIANA SOARES
A última descoberta foi a “cantora, compositor
Iniciando com uma brilhante interpretação de Tracejo, música que ela compôs com a Lorena Chaves, Mariana já mostra ao ouvinte que ela não é apenas mais uma cantora legal. Com grandes variações e presença de metais, essa versão ganhou um “power up” massa.
Gosto bastante de canções que contam uma história e assim é Ela e A Velha. Falando sobre o encontro de gerações e as formas como vivemos, a pegada da faixa é bem como a Lorena, mas com um toque experimental bem significativo como o leve samba/jazz do final da canção.
Falando em samba o que é Ao Samba? Com ousadia, Mariana faz uma lindíssima homenagem ao ritmo evocando toda a sua brasilidade com versos do hino nacional e referência à clássicos da MPB como Aquarela do Brasil, do mestre Ary Barroso. Tudo isso com uma sofisticação encantadora.
Que Mentira é praticamente uma extensão da faixa anterior trazendo um diálogo entre o Samba e a Bossa Nova. Um deleite criativo que reivindica a inspiração divina para os estilos.
A introdução de Dá Corda é muito parecida com Memórias de Um Narciso, da Lorena. A faixa convida a gente a viver pra valer, a deixar as tretas de lado e aproveitar cada detalhe dos nossos dias.
Pé de Limão é tensa. Ácida e crítica sobre uma relação homem-natureza um tanto quanto turbulenta e realidades negativas. Um trecho que salta da faixa é:
O verde está em cinzas
O céu em nuvem de fumaça
O mundo enfeiou
O sol está mais quente
O amor não para de esfriar
Esqueceram tudo o que você ensinou
Apesar do timbre de voz ser bem agudo pra minha preferência, acho o canto da Mariana Soares muito bom. Transbordando criatividade e energia, essa menina vai longe, com certeza! Ah, vale a pena conferir também o álbum A Natureza Te Grita.